Título: Grupo fecha ponte na Bahia em apoio a bispo
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2007, Nacional, p. A21

Protesto contra obra no São Francisco mobilizou religiosos, índios e movimentos sociais na Bahia

Salvador - Cerca de 500 pessoas, entre religiosos, integrantes de tribos indígenas e de movimentos sociais organizados do médio São Francisco bloquearam, entre as 6 horas e as 16 horas de ontem, a ponte da BR-242 que atravessa o rio, no município de Ibotirama (BA), 646 quilômetros a oeste de Salvador. Os manifestantes ergueram faixas e montaram barracas na rodovia.

¿A manifestação foi um ato de apoio à greve de fome do bispo Luiz Flávio Cappio e uma ação de repúdio ao projeto de transposição que está sendo feito¿, afirmou o diretor do Movimento de Pequenos Agricultores, Anderson Santos, um dos organizadores da manifestação.

Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (Ceta) na região oeste da Bahia, Bartolomeu Guedes acrescentou que o protesto foi realizado para avisar a população sobre ¿o erro que é o projeto de transposição¿. ¿Temos de chamar a atenção para a situação absurda que é fazer um projeto como esse enquanto a população ribeirinha passa sede.¿

Durante a manifestação, os motoristas que passavam pela rodovia, que liga a capital baiana ao Distrito Federal, tiveram de suportar, parados, por pelo menos duas horas para seguir viagem, sob o sol que chegou a deixar a temperatura próxima dos 40 graus, no início da tarde. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, uma das vias era liberada a cada duas horas, para aliviar o trânsito.

Depois do bloqueio, os manifestantes seguiram, em caminhada, ao centro de Ibotirama, onde realizaram um ato de protesto contra a transposição. Segundo a organização, cerca de mil pessoas participaram da mobilização, até o início da noite.

¿Este é o momento de as organizações aproveitarem para discutir os modelos de desenvolvimento, de enriquecimento a qualquer custo, que estão sendo propostos à população¿, disse d. Cappio, em Sobradinho (BA), 554 quilômetros a noroeste de Salvador, ao saber da ocupação da ponte e de outras manifestações em seu apoio.

Segundo a assessoria de imprensa da Articulação São Francisco Vivo, a coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), por exemplo, passou o dia em jejum e em orações - assim como o bispo está há nove dias.

MÉDICO

A quarta-feira marcou o primeiro dia em que o bispo deixou de ingerir apenas água filtrada do São Francisco. ¿Tivemos de passar a administrar soro caseiro para manter a saúde do religioso¿, afirmou o médico Rogério Leal, que está acompanhando o bispo. De acordo com ele, d. Cappio começou ontem a apresentar sinais de anemia e desidratação.

D. Cappio disse que a recomendação de ingestão do soro caseiro já havia sido feita pelo médico Edil Santos, que o acompanhava voluntariamente desde o início da greve de fome, no dia 27, mas estava relutante em segui-la. ¿Agora, quero manter o estado físico melhor por mais tempo, para seguir no protesto¿, justificou.