Título: Alta abstenção quase comprometeu Pisa no Brasil
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2007, Vida&, p. A33

País teve índice mínimo de alunos para entrar no ranking; margem de erro provoca disputa política

A participação de alunos brasileiros no Pisa 2006 ficou no limite exigido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dos 11.771 estudantes selecionados para fazer a prova no País, 9.345 compareceram (79,4%) - a entidade exige a presença mínima de cerca de 80% da amostra, caso contrário, a nação fica fora do ranking. Essa participação chegou a ser de 65% em alguns Estados, o que torna complexa a comparação dentro do Brasil.

Veja os rankings do Pisa

¿É possível comparar, mas é preciso ter cautela e prestar atenção na margem de erro¿, disse ontem o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais do MEC (Inep), Reynaldo Fernandes. Ele explica que na Paraíba, por exemplo, 125 dos 327 selecionados para a prova não compareceram. Isso pode ter acontecido por falta do aluno ou por erro na identificação do estudante no sistema escolar. Assim, a margem de erro da Paraíba foi de 16 pontos e sua nota pôde variar entre 357,8 e 420,7 em ciência. O Estado ficou melhor colocado que São Paulo na área, que teve margem de erro de 5,3 pontos e variação de nota entre 374,4 e 395. Por isso, os resultados dos paulistas são mais precisos.

O fato de o MEC ter sinalizado anteontem para uma possível responsabilidade de São Paulo na baixa nota brasileira no Pisa, já que o Estado não passou da 10ª posição no ranking, causou mal-estar político. ¿O ministro pode ter feito uma leitura precipitada ao dizer que São Paulo puxou a média nacional para baixo. São Paulo representou 11% da amostra, é impossível¿, disse ontem o governador José Serra (PSDB).

Ele atribuiu o desempenho dos paulistas no Pisa a um ensino médio de baixa qualidade em geral no Brasil. Também para o governador, a explicação para o Estado ter notas abaixo de Sergipe, por exemplo, está na alta margem de erro dos resultados, que chega a 27%. ¿Nós sabemos que o ensino médio precisa melhorar no País todo¿, disse. Mas, de acordo com ele, não pode ocorrer um ¿Fla-Flu partidário¿.

O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza também discordou do MEC. ¿Tecnicamente esses dados não são comparáveis¿, afirmou. ¿Ninguém está dizendo que São Paulo foi bem no exame, mas o MEC usou uma estratégia equivocada em ranquear os Estados¿, completou o vice-presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE), Arthur Fonseca Filho.

A participação no Pisa por Estado foi feita pela primeira vez no exame de 2006. Até então, nas provas de 2000 e 2003, era possível apenas comparar regiões ou ter o resultado nacional. No ano passado, o MEC pediu a mudança à OCDE e as amostras foram determinadas por um instituto de estatística americano que assessora o Pisa. A exigência foi de que todos os Estados tivessem pelo menos cerca de 400 alunos, o que ocorreu. ¿Estamos aprendendo, da próxima vez selecionaremos mais alunos para não perdermos com o não comparecimento¿, disse Fernandes.