Título: O Copom defende a responsabilidade
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2007, Economia, p. B2

Na sua última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, como na reunião anterior, manter a taxa Selic que, em 2007, sofreu seis cortes, caindo de 13,35% no final do ano anterior para 11,25%. A decisão era esperada e a única surpresa veio no comunicado das autoridades monetárias, em que a palavra ¿pausa¿ foi suprimida, deixando a entender que o comitê não quer fortalecer a idéia de uma retomada do processo de redução da taxa básica e não afasta a possibilidade de elevá-la de novo.

A decisão pode ser justificada por diversas razões que, já se sabia, seriam levadas em conta pelo BC. Quando, alguns dias atrás, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que a utilização da capacidade instalada havia chegado ao recorde de 82,8%, sabia-se que os membros do Copom, sempre atentos ao ¿gap¿ entre a demanda e a oferta (e seus impactos na inflação), reagiriam com uma atitude conservadora, especialmente levando em conta o forte aumento da produção industrial. A divulgação dos índices de preços na véspera da decisão do Copom parecia justificar a cautela das autoridades monetárias.

Numa perspectiva de médio prazo, os membros do Copom podiam atentar para outros fatos. Se a CPMF não for prorrogada, surge a probabilidade de aumento do dinheiro em circulação, ao passo que, se a prorrogação for aprovada, será ao preço de um relaxamento fiscal, ao mesmo tempo que favorecerá a ascensão do Brasil a grau de investimento que, por sua vez, se traduzirá em aumento das entradas de capitais estrangeiros com expansão da liquidez. É preciso olhar para a próxima decisão do Fed nos EUA que, provavelmente, vai aceitar uma nova redução da taxa básica de juros, aumentando o interesse por operações de arbitragem e, assim, favorecendo nova onda de apreciação do real em relação ao dólar, o que poderá exigir um reforço da intervenção do BC.

Todos esses fatores mereceram ser levados em conta, mas parece que o principal foi o Copom ter visto, na manutenção da Selic, um modo de reagir às tendências desenvolvimentistas que estão se impondo dentro da equipe econômica do governo.

Isso é algo que não vai aparecer no texto da ata da reunião, a ser divulgada daqui a uma semana, mas esteve, seguramente, no pensamento das autoridades monetárias, convencidas de ser, agora, a última fortaleza contra uma política expansionista irresponsável.

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