Título: 'Risco de caixa 2 é para todos', diz Berzoini
Autor: Fadel, Evandro ; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2007, Nacional, p. A4

Para ele, nova denúncia mostra que PT foi injustiçado em 2005

Um dia após o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciar o esquema do mensalão tucano ao Supremo Tribunal Federal (STF), representantes do PT aproveitaram para lembrar as críticas que sofreram em 2005 e defender novamente a tese de que esquemas de caixa 2 de campanha, como o eclodido naquela época, era uma prática recorrente na política brasileira.

Ontem, em Curitiba, o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), disse que a denúncia contra 15 suspeitos de peculato e lavagem de dinheiro ¿comprova que o esquema Marcos Valério começou em Minas, com o PSDB¿. Além disso, segundo ele, ficou demonstrado que ¿aquele tipo de ataque que foi feito contra o PT em 2005 e 2006 é absolutamente injusto, porque esse tipo de risco existe para todos os partidos¿.

Na mesma linha, em Brasília, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que a denúncia do procurador-geral muda o debate político entre governo e oposição. ¿Cria condições de um embate num nível diferente, dado que a oposição fez discursos muito duros, que poderão, agora, se voltar contra ela¿, afirmou.

As falas de Berzoini foram feitas em meio a um discurso conciliador. O presidente do PT, que tenta um novo mandato à frente da sigla no dia 2, disse esperar que o caso do mensalão tucano não seja utilizado ¿de forma oportunista¿ como arma eleitoral. ¿Eu respeito o PSDB como adversário e não vou usar contra o PSDB armas de baixo nível¿, prometeu.

REFORMA

Defensor do financiamento público de campanha e da convocação de uma constituinte exclusiva para a reforma política, Berzoini aproveitou para criticar o financiamento privado. ¿Se não houver uma reforma política que crie o financiamento público de campanha, esse risco vai continuar existindo na política brasileira¿, disse. ¿O financiamento privado envolve muitas vezes a ação de pessoas mal-intencionadas, que acabam se aproximando dos políticos com outros interesses e oferecendo mecanismos de financiamento nem sempre transparentes.¿

Berzoini afirmou que pretende trabalhar pela mudança do sistema de financiamento e demonstrar que tucanos foram ¿injustos e oportunistas¿ contra o PT em 2005. ¿Nós não seremos, porque não queremos baixar o nível da política¿, continuou. ¿Esse tipo de oportunismo, de querer caracterizar um partido como desonesto, não ajuda a democracia.¿

Berzoini e Chinaglia comentaram a substituição do ministro de Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, que se afastou do cargo após seu nome ter sido incluído na denúncia. Para Chinaglia, a entrada do deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE) não quebrará a continuidade na articulação política. ¿Todo ministro tem como chefe o presidente Lula. Portanto, a orientação política continuará sendo a mesma¿, disse.

Berzoini disse que o pedido de afastamento de Mares Guia demonstrou que ele ¿não quer criar nenhum constrangimento¿. ¿Eu não acredito no seu envolvimento nessa questão, mas é a Justiça que tem que apurar e não eu.¿ E defendeu também o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). ¿Não acredito que tenha agido de má-fé, assim como acredito que nossos companheiros não agiram de má-fé¿, disse Berzoini.