Título: Lula pode entrar no corpo-a-corpo por CPMF
Autor: Monteiro, Tania; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2007, Nacional, p. A6

Além de conversar com os senadores, presidente pretende procurar os governadores que resistem a negociar manutenção do imposto do cheque

Preocupado com as dificuldades que o governo enfrenta no Senado para garantir a aprovação da emenda que prorroga a CPMF até 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu se empenhar pessoalmente e vai fazer corpo-a-corpo entre os senadores. Além de conversar com eles, Lula vai procurar os governadores que resistem a negociar a manutenção do imposto do cheque. A idéia do governo é aprovar a prorrogação do tributo em primeiro turno até 15 de dezembro.

O presidente e seus auxiliares mais próximos rejeitam qualquer hipótese de ter de discutir um plano B, para o caso de o governo não conseguir aprovar a CPMF este ano. A ordem de Lula é que todos devem se empenhar. Segundo um ministro, o plano A e o plano B do governo são votar em tempo hábil. Ele garantiu que no Planalto ninguém trabalha com a possibilidade de estender os trabalhos do Congresso para garantir a manutenção do imposto do cheque e menos ainda de deixar a emenda para ser votada apenas no ano que vem.

A estratégia de votação e mobilização de toda a base para assegurar os R$ 40 bilhões do tributo foi o tema da reunião da coordenação política do governo ontem, a primeira com a presença do novo ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que tomou posse ontem. Múcio, ex-líder do governo na Câmara, começou a trabalhar no convencimento de senadores, governadores e prefeitos já na quinta-feira, quando foi designado para substituir Walfrido Mares Guia, que deixou o posto depois que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresentou denúncia contra ele no caso do mensalão mineiro.

ARTICULAÇÃO

A reunião da coordenação política também levantou a questão da bancada do PTB no Senado que deixou o bloco do governo, embora permaneça na base aliada. O governo iniciou conversas com líderes do partido, na tentativa de garantir o apoio da bancada na votação. O próprio senador Mozarildo Cavalcante (RR), um dos mais rebeldes, já foi procurado por vários interlocutores do presidente.

A ordem do Planalto é reforçar o discurso ¿técnico¿, isto é, mostrar que o imposto beneficia Estados e prefeituras. O governo quer mostrar com números os eventuais prejuízos de governadores. De acordo com um ministro, trata-se de despolitizar a discussão e retirar questões pessoais da negociação.

Lula e os ministros também disseram que é preciso mostrar para a oposição que todos os acordos feitos para garantir a aprovação da emenda serão cumpridos. A idéia é estabelecer um clima de confiança, já que ainda restam três anos de mandato ao presidente.

Ministros insistem em que a CPMF é o melhor imposto que existe, porque não é sonegável e é distribuído pelos Estados. Um deles lembra que 80% dos Estados são beneficiados com a repartição do tributo, daí a necessidade de eles se empenharem por sua prorrogação.

ELOGIOS AO CONGRESSO

Depois de anunciar que entrará no corpo-a-corpo pela CPMF, Lula usou a solenidade de posse de José Múcio para fazer elogios ao Congresso. ¿Não sei se existe no mundo um Parlamento mais compreensivo do que o nosso, mesmo nas divergências. Nós não tivemos dificuldades insuperáveis para votar nenhum projeto importante que o governo mandou para o Congresso, para o Senado¿, afirmou. ¿Muitas vezes o que falta é a conversa certa na hora certa, com as pessoas certas.¿

Múcio amenizou as avaliações de que fica fragilizado com a decisão de Lula, que tratou como uma soma de esforços: ¿Se o presidente está disposto, ele sabe, como gestor do Brasil, da responsabilidade da aprovação da CPMF, que são R$ 40 bilhões. Não é um dinheiro qualquer, é imprescindível. Esta é apenas uma responsabilidade de quem está no comando do País.¿

Lula tratou as divergências como ¿naturais¿, apesar de parecerem ¿uma guerra¿ às vezes. ¿Não acredito que haja problema de difícil solução.¿ E elogiou de novo o Congresso, agradecendo sua ¿coragem de fazer mudanças¿ e avisando que ¿haverá mais trabalho pela frente¿.

Além de elogiar o Congresso, Lula falou bem de Mares Guia e de seu substituto. Depois de citar dificuldades do cargo, lembrando que por ali já passaram cinco ministros, ele destacou a ¿experiência e a elegância na disputa política¿ de José Múcio e disse que ele vai ter de trabalhar 24 horas por dia.

O começo de seu discurso foi para Mares Guia, que não estava presente. Lula contou que ele ficou magoado por não ter sido ouvido no processo do mensalão mineiro e achou melhor deixar a função para se defender ¿do que criar constrangimento para ele próprio como ministro, de ter de responder todo dia a alguma pergunta¿. E prosseguiu: ¿Espero que ele consiga o intento e seja julgado logo e possa provar sua inocência.¿

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