Título: Fundo provoca 'ruídos' no governo
Autor: Veríssimo, Renata; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2007, Economia, p. B5

Mantega volta atrás e junto com Meirelles anuncia que fundo soberano não terá recursos das reservas internacionais

A disputa no governo em torno da criação do fundo soberano criou ontem mais um confronto público entre o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Poucas horas depois de anunciar que o fundo seria formado com uma pequena parte das reservas, Mantega teve de voltar atrás. Após uma reunião com Meirelles no Ministério da Fazenda, os dois, lado a lado, informaram que o fundo não terá os recursos das reservas internacionais e será composto com dólares comprados diretamente do mercado. ¿É bom esclarecer porque está dando ruído. Por isso estamos fazendo o anúncio juntos¿, disse Mantega.

Sem esconder o desconforto por ter que dar esclarecimentos, Meirelles enfatizou que as explicações eram para evitar ¿uma série de mal-entendidos e especulações¿ no mercado. ¿A sistemática de administração do fundo, as regras de governança, as normas de aplicação e o processo de compra de recursos do fundo ainda não estão definidos. Estamos anunciando antes da definição (que o governo não utilizará as reservas) para evitar uma série de mal-entendidos e especulações, como esta de que poderíamos usar parte das reservas. E não vai.¿

O presidente do BC não quis, no entanto, polemizar com Mantega. Ao ser confrontado com a informação de que o ruído fora causado pelo próprio ministro, Meirelles preferiu responder que ¿o ministro deixou o assunto muito claro¿. Mantega anunciou a criação do fundo para este ano, mas o presidente do BC não quis se comprometer com prazos, alegando que há vários detalhes a serem definidos. ¿Vamos ter que fazer isso com calma¿, disse Meirelles.

O uso dos dólares era um desejo do Ministério da Fazenda, mas não tem o apoio de Meirelles, que já pediu cautela na discussão. A disputa interna no governo gerou especulações no mercado e elevou nos últimos dias o valor do dólar em relação ao real. Mantega esclareceu que ¿uma coisa¿ são as reservas internacionais, que continuarão a ser administradas pelo BC, e ¿outra coisa¿ é o fundo soberano, que vai comprar os dólares diretamente do mercado. ¿As reservas continuarão crescendo, não é doutor Meirelles?¿, disse Mantega, dirigindo-se ao presidente do BC.

O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, informou que estão em estudo outros instrumentos, além da possibilidade da emissão de títulos públicos para captar os dólares necessários para compor o fundo. Embora não tenha revelado as medidas em estudo, ele garantiu que não haverá prejuízos para as contas públicas. Mas, caso o Tesouro compre os dólares diretamente no mercado, a Fazenda ganha mais poder para interferir na taxa de câmbio.

Mantega aproveitou para classificar de ¿absurdo¿ atribuir a valorização do dólar nos últimos dias às notícias de que o Tesouro poderia comprar pelo menos US$ 10 bilhões caso as reservas não fossem utilizadas. Para Mantega, a volatilidade é reflexo da crise do mercado imobiliário nos Estados Unidos.

O ministro ressaltou que o formato e a atuação do fundo ainda não estão definidos. A idéia é utilizar os recursos para financiar infra-estrutura. Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem disputando parte dos dólares para atender à demanda do setor produtivo por novos empréstimos.

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