Título: Morre ex-chanceler Gibson Barbosa
Autor: Scarance, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2007, Nacional, p. A7

Comandou ministério no governo Médici e ajudou, como ministro, a superar divergências sobre Usina de Itaipu

O ex-chanceler Mário Gibson Barbosa, que ocupou seis embaixadas e comandou o Ministério das Relações Exteriores de 1969 a 1974, no governo Emílio Garrastazu Médici, morreu anteontem, no Rio, de falência múltipla dos órgãos. Diplomata de carreira, Gibson Barbosa tinha 89 anos e estava internado havia uma semana no Hospital Samaritano, em Botafogo. Entre outras atuações, ajudou a resolver atritos com Paraguai e Argentina, abrindo caminho para a construção da Usina de Itaipu.

¿Foi um grande diplomata, com capacidade de lidar com problemas e buscar soluções¿, diz o ex-chanceler Celso Lafer. ¿Ele atuou na chancelaria desde o início dos anos 40. Portanto, foi um partícipe da história durante largo período.¿

Lafer relata que Gibson Barbosa deu ¿nova importância¿ à política africana. ¿É, sem dúvida nenhuma, um precursor nessa área¿, opina. Ele ressalta, ainda, a importância do ex-chanceler para ampliar a extensão do mar territorial do País, tema que ainda hoje está em voga.

Natural de Olinda, Gibson Barbosa era filho de comerciante. Formou-se pela Faculdade de Direito do Recife e iniciou a carreira diplomática em 1939, ano em que foi aprovado em concurso do Itamaraty. Antes de ser embaixador, ocupou diversos postos, como ministro-conselheiro na missão brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU), entre 1959 e 1960.

Dois anos depois, promovido a ministro de primeira classe, tornou-se embaixador em Viena, na Áustria. De lá, foi transferido para a embaixada no Paraguai, em 1966, pelo presidente Humberto Castelo Branco. Na época, as relações com Assunção estavam tensas, pela polêmica em torno dos limites das cataratas de Sete Quedas. Foi recebido com certa hostilidade, mas conseguiu superar o impasse.

TERRORISMO

De 1968 a janeiro de 1969, Gibson Barbosa foi secretário-geral de Política Exterior do Itamaraty, posto que deixou para ser embaixador em Washington. Em outubro do mesmo ano, tornou-se ministro das Relações Exteriores de Médici e, em 1971, anunciou o plano de combate ao terrorismo no continente, levado a debate na Organização dos Estados Americanos (OEA). ¿Foi ministro em um período muito difícil¿, ressalta Lafer.

Enfrentou atritos com a Argentina, mas fechou acordo, em Nova York, que permitiu, em abril de 1971, a assinatura do Tratado de Itaipu. Viajou para nove países africanos, entre outras ações consideradas inovadoras para a época.

Após sair do ministério, foi embaixador na Grécia e em Roma. Em 1982, seguiu para a embaixada no Reino Unido, onde intermediou interesses da Argentina, após a Guerra das Malvinas. Aposentou-se em 1986 e tornou-se diretor-presidente da Companhia de Hotéis Palace. Em 1992, publicou suas memórias, Na diplomacia, o traço todo da vida.

Em artigo recente, o ex-chanceler mostrou contrariedade com a política externa atual, criticando a pressão por engajamento ideológico e partidário de diplomatas ¿para obter promoção ou os melhores postos¿. Ele deixou viúva Júlia Gibson Barbosa.