Título: Petrobrás vai reduzir enxofre no diesel
Autor: Bahnemann, Wellington
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/11/2007, Nacional, p. A19

Estatal vinha se recusando a cumprir resolução do Conama, de 2002

A Petrobrás voltou atrás ontem e anunciou que até 2009 fornecerá diesel com teor reduzido de enxofre - até 50 partes por milhão (ppm) - para veículos pesados, adequando-se às exigências da fase P-6 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), instituído pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Desde a aprovação da exigência, em 2002, a Petrobrás vinha afirmando que não cumpriria a medida.

Atualmente, a concentração de enxofre no Brasil varia entre 500 ppm e 2.000 ppm. Na Europa, a concentração permitida é de 10 a 50 ppm e, em 2009, o limite máximo será de apenas 10.

O enxofre é relacionado ao aumento de risco de câncer e é também um importante gatilho de uma série de doenças cardiovasculares e respiratórias, que atacam milhares de pessoas em zonas urbanas.

Apesar do anúncio, a Petrobrás ressaltou que o pleno cumprimento das normas do Conama só ocorrerá quando a indústria automobilística passar a fabricar veículos que atendam às exigências do P-6. Por isso, de acordo com a empresa, é pouco provável que o Brasil consiga cumprir a meta de reduzir as emissões de gases e particulados de veículos pesados a diesel daqui a dois anos.

O diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, afirmou ontem que o principal entrave é a defasagem tecnológica dos veículos brasileiros. ¿Querer resolver a questão apenas com o combustível de melhor qualidade é um erro. O mundo não fez assim. Se o Brasil quiser levar a sério essa questão, a redução das emissões exige motores de última tecnologia e controle rígido dos Estados na manutenção.¿

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) afirmou ontem por meio de sua assessoria de imprensa que recebeu bem a notícia da Petrobrás de que o novo diesel já estará disponível em 2009, mas afirmou que, por lei, a indústria tem três anos para desenvolver os novos motores.

Costa, por sua vez, fez questão de ressaltar que a Petrobrás vem fazendo sua parte para garantir o cumprimento da meta. De acordo com o executivo, o plano estratégico para 2008-2012 da estatal prevê investimentos de US$ 8,5 bilhões na adaptação das refinarias para a produção de combustíveis com melhor qualidade, dos quais cerca de 50% estão sendo destinados ao diesel.

¿A mensagem importante é que a Petrobrás garante o diesel de 50 ppm em 2009¿, afirmou o executivo.

EXIGÊNCIA DO MERCADO

Costa também repetiu que a Petrobrás já vem trabalhando para melhorar a qualidade dos seus combustíveis por causa de seu ¿compromisso socioambiental¿ e porque isso também é uma exigência dos mercados consumidores.

¿Todas as grandes empresas de petróleo estão investindo na melhoria da qualidade dos combustíveis. Isso significa que ou fornecemos produtos com melhores especificações ou estamos fora do mercado¿, explicou.

Propostas semelhantes à do Conama estão sendo feitas na Europa e nos Estados Unidos, que não importam os combustíveis que violam as especificações de emissões.

CAMINHÕES PROIBIDOS

A resistência da Petrobrás em adotar a resolução do Conama enfrentou mobilização dos governos de São Paulo e Minas Gerais, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de organizações não-governamentais de defesa do consumidor e do ambiente, que chegaram a entrar com representação no Ministério Público.

Ontem, o coordenador do Movimento Nossa São Paulo, Oded Grajew, comemorou o anúncio da Petrobrás. ¿Essa foi a nossa segunda vitória, a primeira foi fazer que a Agência Nacional do Petróleo aprovasse as especificações do diesel, algo que a agência demorou cinco anos para fazer, numa atitude criminosa¿, disse ao Estado.

De acordo com Grajew, assim como a ANP e a Petrobrás, a Anfavea também deve acabar cumprindo o prazo. ¿Isso não é algo abstrato, a vida das pessoas está em jogo. É uma questão de saúde pública.¿

O coordenador informou que, se o prazo não for respeitado, uma das reações que estão sendo estudadas é a proibição de entrada no Estado de São Paulo de caminhões que ainda usem diesel fora das especificações. ¿Não podemos deixar rodar algo que é uma ameaça à saúde pública.¿

COLABOROU GABRIELLA DORLHIAC

FRASE

Paulo Roberto Costa Diretor de Abastecimento da Petrobrás

¿Querer resolver a questão apenas com o combustível de melhor qualidade é um erro. O mundo não fez assim. Se o Brasil quiser levar a sério essa questão, a redução das emissões exige motores de última tecnologia e controle rígido na manutenção desses equipamentos¿

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