Título: Chávez reúne 100 mil pelo 'sim'
Autor: Sant¿Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2007, Internacional, p. A30
Ele ameaça parar de vender petróleo aos EUA e volta a denunciar `complô¿ da CIA
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou ontem a CIA de conspirar para derrubá-lo, disse-se disposto a ¿pegar em armas¿ para ¿salvar a pátria¿ e ameaçou interromper o fornecimento de petróleo aos EUA. No encerramento da campanha em favor da reforma constitucional que será submetida a referendo amanhã, o governo repetiu a proeza alcançada pela oposição na véspera, de encher a Avenida Bolívar, uma das principais de Caracas. As pesquisas indicam empate técnico entre o ¿sim¿ e o ¿não¿ no referendo.
¿No domingo, daremos um novo nocaute nos esquálidos, na oligarquia, nos que pretendem que a Venezuela volte a ser uma colônia americana¿, disse o presidente. ¿Até há poucos anos, a Venezuela era um país escravizado, dominado pelos EUA e pela oligarquia crioula¿, afirmou Chávez, que disse que não falaria muito e discursou por 2h40. ¿Quem vota pelo `sim¿ está votando por Chávez. Quem vota pelo `não¿ está votando por George W. Bush. Essa é a verdadeira confrontação que temos.¿
Ele acusou os ¿oligarcas¿ e os americanos de tentarem matá-lo e advertiu: ¿Se por alguma razão escolherem o caminho da violência, como estão preparando para o domingo, os pegaremos nas ruas.¿ Segundo Chávez, uma suposta ¿Operação Pinça¿, da CIA, prepara um golpe contra ele, que inclui sabotagens de redes elétricas e distúrbios nas ruas. ¿Os planos deles são de desestabilizar um país que avança em oito anos o que não avançou em cem¿, disse Chávez, para arrematar, em tom inflamado: ¿Sou um soldado. Se tiver de pegar um fuzil outra vez para salvar a pátria, pegarei.¿
¿Se no domingo ganhar o `sim¿, e aqui a oligarquia venezuelana, que faz o jogo do império, vier com a historinha de que houve fraude, ministro (Rafael) Ramírez (de Energia e Petróleo), ordene que detenham o envio de petróleo aos EUA¿, ordenou.
O presidente, que não renovou a licença da emissora RCTV, ameaçou ainda tirar do ar a rede de TV Globovisión, crítica ao governo, se divulgar os resultados do referendo antes da hora permitida, e de expulsar correspondentes estrangeiros, citando a cadeia americana CNN.
Mais de 100 mil pessoas, vindas de todo o país, tingiram a avenida de vermelho, cor oficial dos simpatizantes do governo. ¿Agora, sim, a Avenida Bolívar está cheia de gente¿, disse ele, menosprezando a manifestação de quinta-feira, quando mais de 200 mil pessoas encerraram a campanha do ¿não¿. ¿Eles não têm gente para encher a Bolívar¿, zombou.
A reforma permite a reeleição ilimitada do presidente, no cargo desde 1999. Dá-lhe o poder de criar por decreto províncias federais e nomear seus governantes. Cria uma nova ¿Milícia Bolivariana¿ e concede às Forças Armadas poder de polícia. Institucionaliza os conselhos comunais, de trabalhadores, de estudantes, etc, que criam uma forma de representação paralela a sindicatos e outras entidades, o que levou muitos sindicalistas e líderes estudantis a se oporem a ela.
Mas nem todos. Depois de 17 horas de viagem, o sindicalista José Freddy Varela Márquez, de 51 anos, descia ontem à tarde de um ônibus com um grupo vindo de San Cristóbal, no oeste do país. ¿Não importa que os sindicatos desapareçam. Depois virão os conselhos de trabalhadores¿, disse Varela, secretário-geral do sindicato dos trabalhadores nos ¿mercales¿, os supermercados conveniados ao governo. ¿Em cem anos, os sindicatos não fizeram nada. Quem propôs a jornada diária de seis horas e seguro social para os caminhoneiros, taxistas, camelôs e trabalhadores autônomos foi o presidente.¿
Como havia acontecido na manifestação chavista do dia 21, boa parte da multidão era formada ontem por bolsistas dos programas estatais e funcionários públicos trazidos em ônibus fretados pelos governos locais que apóiam Chávez. Centenas de ônibus se enfileiravam ao longo das grandes avenidas que dão acesso à Bolívar.
¿Apóio o presidente e a reforma porque dão mais poder ao povo¿, disse Genesis Blanco, de 20 anos, estudante da Universidade Zulia, em Punto Fijo, no Estado Falcón, noroeste do país.
Dezenas de entidades latino-americanas assinam um manifesto de apoio à reforma, publicado ontem no jornal Últimas Noticias, de Caracas. Entre elas estão os brasileiros do Núcleo Ruy Mauro Marini, do PDT (RJ), o PCB, a União da Juventude Comunista e a Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj). Parte do movimento feminista brasileiro também parece cativado por Chávez. Firmam o manifesto a Confederação das Mulheres do Brasil, a Federação Democrática de Mulheres e a União Brasileira de Manaus.
O manifesto revela ainda uma proliferação de entidades ¿bolivarianas¿ no Brasil, como a Casa Bolivariana do Rio de Janeiro, a Escola Bolivariana de Poder Popular do Brasil e o Coletivo de Educação Popular Escolas Bolivarianas do Brasil.
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