Título: Lula contraria Itamaraty e diz que visita Bolívia
Autor: Chrispim Marin, Denise Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2007, Nacional, p. A15

Viagem reforçará apoio a Evo às vesperas de sanção de nova Carta

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, decidiu pôr no limbo uma advertência do Itamaraty ao confirmar, na quarta-feira à noite, sua visita à Bolívia no dia 12 - dois dias antes da data da sanção da polêmica Constituição patrocinada pelo seu colega boliviano, Evo Morales.

À luz do método utilizado por Evo para obter a aprovação do projeto constitucional pela Assembléia Constituinte, no último final de semana, e da onda de violência provocada por essa atitude, o Itamaraty avaliou que seria adequado adiar a visita. Em especial, porque a presença de Lula na Bolívia na antevéspera da sanção da nova Constituição será inevitavelmente interpretada como um apoio do governo brasileiro aos procedimentos e às orientações de Evo.

¿A agenda com a Bolívia continua de pé¿, afirmou o presidente Lula, no Itamaraty, ao ser abordado pela imprensa sobre o possível adiamento da visita por causa dos distúrbios naquele país.

O presidente acrescentou que pretende levar consigo uma missão de empresários para estimular investimentos brasileiros no país vizinho, apesar da insegurança jurídica verificada na Bolívia nos últimos anos.

Afirmou ainda que deverá tratar com Evo da construção de um pólo gás-químico na fronteira entre os dois países. Surgido em 2001, esse projeto jamais amadureceu e acabou enterrado pela nacionalização dos setores de gás e de petróleo pelo governo boliviano, em 2006.

No início de novembro, motivado por razões políticas e pelo temor de desabastecimento no País em médio prazo, o governo Lula concordara com a retomada dos investimentos da Petrobrás na expansão da produção de gás natural na Bolívia. O Itamaraty concorda com as iniciativas governamentais e empresariais que possam contribuir para a estabilização política e econômica da Bolívia. Mas pretende poupar a imagem de Lula.

Na diplomacia brasileira, causou estranheza o procedimento adotado por Evo para obter a aprovação da Assembléia de um novo texto constitucional, cujo conteúdo deverá ser definido pelo seu próprio governo e poderia prever a reeleição ilimitada do presidente da república.

Primeiro, porque a oposição não participou das votações, que se deram num quartel de Sucre. Segundo, porque a suposta Carta aprovada não passa de um índice e de títulos dos artigos constitucionais.