Título: Após impasse de 12 horas, avião venezuelano deixa Rio Branco
Autor: Azevedo, Dulcinéia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2007, Nacional, p. A28

Polícia Federal autoriza decolagem depois de confirmar que não havia armas no Hércules C-130

O Hércules C-130 da Força Aérea da Venezuela deixou o Aeroporto Internacional Plácido de Castro, em Rio Branco (AC), na madrugada de ontem, com destino a Caracas, depois de ficar mais de 12 horas em solo brasileiro. O avião passou por vistoria técnica, foi abastecido e teve a decolagem autorizada pela Infraero depois de a Polícia Federal confirmar que não levava armas nem munição - como tinham denunciado opositores bolivianos. Na véspera, o avião teve de deixar às pressas o aeroporto boliviano de Riberalta, em meio a protestos de opositores do presidente da Bolívia, Evo Morales.

No interior do avião, a PF confirmou apenas a presença de 34 militares venezuelanos, que nada falaram sobre a denúncia de que tinham sido enviados pelo presidente Hugo Chávez para treinar milícias de sustentação do governo de Evo.

O superintendente da Infraero no Acre, Jailson Araújo, não quis se pronunciar sobre as razões que ocasionaram a aterrissagem de emergência da aeronave no Acre e a demora de sua partida - limitando-se a informar que ¿a missão era do Exército, e os militares é quem tinham as informações¿.

Em esclarecimentos à PF, os venezuelanos apenas narraram as dificuldades no aeroporto boliviano. Depois de deixar Riberalta, a aeronave ainda tentou pousar em duas outras cidades do Departamento (Estado) de Pando, mas as pistas dos aeroportos foram interditadas por manifestantes.

O governador de Pando, Leopoldo Fernandez, que está nos EUA com outros dirigentes oposicionistas para denunciar as ações de Evo na Organização dos Estados Americanos (OEA), ainda tentou com amigos e autoridades brasileiras manter o avião venezuelano retido no aeroporto de Rio Branco.

Por telefone, ele disse ao delegado de Polícia Civil Illimani Suarez, seu amigo pessoal, que os ¿soldados venezuelanos estariam envolvidos nos conflitos ocorridos em Sucre há duas semanas, que terminaram com pelo menos três mortos¿.

Em Brasília, o porta-voz do Palácio do Planalto, Marcelo Baumbach, disse que ¿o governo brasileiro tem todo o interesse em esclarecer este assunto, sem intervir, é claro, em assuntos que sejam da Bolívia e da Venezuela¿.

Segundo informações obtidas na Presidência da República, a concessão de autorização para pouso de emergência seguiu regras normais e, assim que a aeronave pousou, foi feita a vistoria de praxe, pela Polícia Federal e pela Vigilância Sanitária. Nenhuma anormalidade foi relatada às autoridades superiores dos dois órgãos, de acordo com informações obtidas no Planalto. Isso significa, por exemplo, que nenhum armamento deve ter sido encontrado no avião, porque seria uma anormalidade e teria de ser relatada.

O Planalto nega, também, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tivesse telefonado para Chávez para tratar do assunto. As únicas armas a bordo eram as pessoais dos militares. Fora isso, só as bagagens da tripulação e um aparelho de TV.

De acordo com informações obtidas no Comando da Aeronáutica, o avião venezuelano obteve autorização para sobrevoar o território brasileiro na quarta-feira, a partir das 10 horas, entrando pela fronteira norte, e saindo por Guajará-Mirim, em Rondônia, na divisa com a Colômbia, por volta das 13h40. A volta do Hércules venezuelano estava prevista para a quinta-feira.

No documento de sobrevôo, segundo a Aeronáutica, não havia nenhuma informação sobre a existência de armas na aeronave.

O avião pousou em Rio Branco às 14h37 de quinta-feira. O que se passou a partir daí, de acordo com a Força Aérea, não é da sua alçada, já que o papel da Aeronáutica era apenas o de conduzir o avião, que se declarou em emergência, ao pouso, em segurança. O governo brasileiro não questiona ou se pronuncia sobre o que houve na Bolívia.

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