Título: Cristina assume com apoio maciço
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2007, Nacional, p. A37

'Hiperpresidente' tem maioria na Câmara, no Senado e nos Estados

Cristina Fernández de Kirchner será, a partir de amanhã, a primeira mulher eleita nas urnas para ocupar a presidência da Argentina. Ela assume como a presidente civil com maior poder institucional de toda a história do país, pois controlará a Câmara de Deputados com uma margem sem precedentes. No Senado, onde seu partido, o Justicialista (peronista) impera desde a volta da democracia em 1983, a nova presidente terá respaldo de mais de dois terços dos senadores. Ao mesmo tempo, os partidos da oposição estão desarticulados.

Cristina também contará com o apoio de 19 dos 24 governadores argentinos - incluindo da principal província, Buenos Aires, que concentra quase 40% do eleitorado e produz um terço do PIB. De quebra, ela terá controle sobre mais da metade dos prefeitos em todo o país

Kirchner, em quatro anos e meio de governo, conseguiu recompor a autoridade presidencial - deteriorada pela crise financeira, social e política de 2001. Esse ativo político ficará de herança para Cristina, que também receberá uma megaestrutura assistencialista do governo Kirchner com a qual poderá, a exemplo do marido, driblar explosões sociais e manifestações.

Kirchner também deixa para Cristina uma Corte Suprema composta em sua maior parte por juristas que simpatizam com o governo. Além disso, Kirchner preparou para Cristina um sistema de retenções sobre as exportações que permite que a Argentina mantenha um considerável superávit fiscal.

VAIDADE

A concentração de poder em torno de Cristina deve expor ainda mais um lado da nova presidente que sempre foi visto com reservas por assessores - sua vaidade. Os fotógrafos da Casa Rosada, o palácio presidencial, já receberam o recado de não fotografar as canelas de Cristina, que ela própria considera 'grossas demais'. Assim, nada de fotos da chefe de Estado de corpo inteiro - a não ser quando ela use calças compridas.

Por outro lado, desde o lançamento da campanha, em julho, ela fez questão de indicar que quer ser chamada 'presidenta', com 'a' no final, para destacar seu gênero (embora isso esteja gramaticalmente errado em espanhol, bem como em português).

Para facilitar seu trabalho, Cristina ainda contará com a ajuda do marido, o principal interessado em preservar - e ampliar - o poder político do casal. Analistas afirmam que o Kirchner governará em conjunto com Cristina.

A nova presidente também se beneficiará da divisão na oposição. Poucos dias após as eleições presidenciais , os líderes opositores, em vez de formar uma frente comum, começaram a criticar uns aos outros. Muitos membros da Coalizão Cívica - cuja líder, Elisa Carrió, obteve o segundo lugar - estão saindo para formar um novo partido. E a União Cívica Radical aprofundou sua divisão, esfacelando-se em três partes.

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