Título: Ser professor perdeu valor
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2007, Economia, p. A47

Categoria critica política de baixos salários, alta rotatividade e fim de plano de carreira

O professor Luís Antônio Roder, de 34 anos, é um dos milhares de bravos guerreiros da educação, mas ele não tem tempo para pensar nisso. Como, se tem de dar 54 horas de aula por semana e ensinar português e inglês a mais de 650 alunos? Numa classe, diante de 35 estudantes, Roder se rende à realidade. ¿Me aperta o coração ver que os olhos deles não vêem o futuro. No máximo, uns cinco vão conseguir emprego de verdade. O resto, ah, é o subemprego.¿

Salário de R$ 2.200 ganhos em duas escolas de Mauá, Roder tem consciência de que o seu futuro também é incerto. Como o de seus pais, Luiz Carlos e Maria Silvia Vidor Roder, professores da rede pública que voltaram a dar aulas porque a renda de aposentados é insuficiente. Um policial militar começa ganhando R$ 1.432. Um professor de educação básica com jornada de 30 horas recebe piso de R$ 835. Com gratificações e prêmios não incorporados ao salário na aposentadoria, a remuneração sobe para R$ 1.144.

A gestão tucana restringiu o plano de carreira. Antes, um professor experimentado podia ganhar mais de 50% do que um novato. Novas referências iam sendo criadas e o salário podia subir indefinidamente. Hoje isso não ocorre mais. Segundo o Dieese e a Apeoesp, o poder de compra de um professor no início deste ano era 73,84% do de 1998. ¿Os professores não são mais fixos, entram e saem o tempo todo, os contratados são mal selecionados, há salas superlotadas. Como dar boas aulas nessas condições?¿, critica Luiz Gonzaga de Oliveira Pinto, presidente da Udemo, sindicato de dirigentes de ensino.

A questão salarial sempre foi um problemão. Virou caso de polícia, como na agressão física do governador Mário Covas, em 2000. ¿Em São Paulo, se pensa mais no bem-estar do professor do que do próprio ensino¿, afirma o ex-ministro da Educação, o deputado tucano Paulo Renato Souza. Para ele, a rotatividade dos educadores é uma questão a ser resolvida, mas a categoria deveria aceitar discutir temas tabus, como a remuneração diferenciada para escolas com mais dificuldades (sociais, de aprendizado, de infra-estrutura) e a redução das faltas - um professor pode faltar até 30 dias num ano.

¿São Paulo fez a opção correta, oferecendo vagas para todos e investindo na formação de professores¿, diz a atual secretária, Maria Helena Guimarães de Castro, que contesta o mau desempenho paulista no Pisa. ¿Por que São Paulo está entre os melhores no Índice de Desenvolvimento da Educação? Mas devemos lembrar que qualidade é sempre uma política de longo prazo.¿

Esta foi a primeira vez que os resultados do Pisa foram apresentados também por Estados. O Ministério da Educação promete aprofundar a comparação das unidades da federação com países. É uma boa lição de casa ver o que os outros estão fazendo. Coréia, Finlândia e Irlanda investem muito e corretamente na formação dos professores, a sociedade valoriza a carreira docente, há planos de educação contínuos e escolas autônomas. De igual, o Brasil só tem um sistema de avaliação decente. Mas, até nisso, como se viu na semana passada, a política bota o dedo na cumbuca.

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