Título: A sucessão no Senado
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2007, Notas e Informações, p. A3

Quando esta edição do Estado estiver circulando é possível que o PMDB, dono da maior bancada no Senado, já tenha escolhido o seu candidato à sucessão do alagoano Renan Calheiros na presidência da Casa, a que ele renunciou na semana passada numa ostensiva barganha com os seus pares para preservar o seu maculado mandato. A rigor, só tem sentido falar em escolha numa única eventualidade - caso o ex-presidente (da República e do Senado) José Sarney, o patrono da salvação de Calheiros, sustente até o fim que não pretende voltar ao cargo amanhã para ocupá-lo por pouco mais de um ano, o que resta do período de Calheiros. Sarney sabe que se elegeria com a mesmíssima facilidade para um biênio inteiro, a contar de fevereiro de 2009. Com a grande diferença de que não se trata de um biênio qualquer: o futuro presidente do Congresso Nacional, função do titular do Senado, estará na posição suprema do Legislativo do começo ao fim do processo de mudança de guarda no Planalto.

A propósito, não tivesse sido proibida a reeleição para os comandos das Casas do Congresso numa mesma legislatura, Sarney seria o nome dos sonhos de Lula para ocupar o cargo de hoje até o início de 2011. Ele, que na Constituinte de 1987 acusava o primeiro presidente da Nova República de prevaricação com o dinheiro público, em 2003 se tornou sarneyista desde criancinha - do que, até hoje, não teve motivos para se arrepender. Dias atrás, ironizando o papel de cabo eleitoral de Sarney que Lula assumiu, o gaúcho Pedro Simon, outsider na corrida pela sucessão de Calheiros, comentou da tribuna que ¿a vida dá voltas. Quem diria 10 anos atrás (que) o Lula (iria) apresentar o Sarney como seu homem de confiança¿. E, no mesmo espírito, arrematou: ¿O Sarney também evoluiu. Não é mais o presidente da Arena.¿ Em suma, são todos metamorfoses ambulantes, a expressão de Raul Seixas que Lula adora aplicar a si próprio.

Excluída a hipótese Sarney, dos quatro peemedebistas que contemplam gulosamente a presidência do Senado, o mais em evidência é Garibaldi Alves, ex-prefeito de Natal e ex-governador do Rio Grande do Norte, como representante de um dos clãs que dominavam a política potiguar (o outro é o dos Rosados). Ligeiro no gatilho, Garibaldi se lançou candidato ao lugar de Calheiros antes mesmo que ele descesse da Mesa. O ex-presidente, convencido de que o não de Sarney é definitivo, se tornou cabo eleitoral do correligionário potiguar. Não é bem o caso de Lula. Pois foi Garibaldi o relator desenvolto demais para o gosto do Planalto da CPI dos Bingos. Mas o metamorfoseável presidente não brigará com os fatos - e de novo saberá tirar deles o devido proveito. Já para a opinião pública, a ascensão de Garibaldi dará o que pensar. O homem, afinal, é uma figura. Não chega a ser um Severino Cavalcanti, mas está longe de ter as credenciais exigidas de quem pretende ocupar o cargo de presidente do Senado.

Por exemplo, além de espalhar que já havia até renovado o guarda-roupa, comprando 5 ternos de grife para se pôr au grand complet ao leme do Senado, ele agora comenta que, onde quer que apareça, ¿as pessoas ficam olhando para minha roupa¿. E filosofa: ¿Acho tudo engraçado.¿ É o que devem achar os leitores da sua entrevista no Estado de ontem - uma coleção de preciosidades. Perguntado se corre o risco de ter amantes, numa alusão a Calheiros, abriu-se: ¿Quem é que não corre?¿ E elaborou: ¿Não acho que isso (não ter amantes) deva ser exigido do novo presidente. Senão, grandes estadistas não poderiam ter tido as amantes que tiveram.¿(sic!) Negou ter estado no negócio de rádio e TV, embora sua família tenha ¿sido detentora de um canal de televisão¿: ¿Eu mesmo, pessoalmente¿, explicou, ¿participei pelo lado político, fazia programas.¿ Garibaldi se confessa um leitor ¿desestruturado¿. Como assim? ¿Eu fiz um curso clássico e me tornei um leitor voraz de jornais, publicações e livros esporadicamente. E são aqueles livros que estão nas colunas de recomendações das livrarias.¿ Tem queda por vidas famosas. ¿Hoje tem até biografia da avó do Churchill.¿

É pouco, para presidir o Congresso Nacional.

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