Título: Desafio de regiões pode provocar intervenção militar, dizem analistas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2007, Internacional, p. A12
Se os cinco departamentos opositores resolverem exercer sua autodeclarada autonomia a partir de sábado, restarão ao governo boliviano poucas alternativas além de decretar intervenção militar nessas regiões, segundo analistas. ¿O ato poderia ser considerado sedição e o governo central provavelmente apelaria às Forças Armadas para restabelecer o controle sobre esses departamentos¿, disse ao Estado o cientista político boliviano Carlos Cordero.
Ele explica que esse seria, obviamente, o pior dos cenários. ¿A verdade é que ninguém sabe ao certo até que ponto os líderes regionais estão dispostos a ir quando falam em declarar autonomia de La Paz unilateralmente¿, completa Cordero. ¿O mais provável é que eles estejam querendo elevar as tensões ao máximo para, quando chegarem a tal ponto, sentarem para negociar, mantendo o governo sob alta pressão.¿
Até o ano passado, os governadores dos departamentos não eram eleitos, mas indicados por La Paz. As eleições regionais foram barganhadas numa negociação com o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) em troca da convocação da Assembléia Constituinte. Agora, o que as elites políticas e econômicas desses cinco departamentos reivindicam é mais independência em importantes assuntos administrativos e tributários, com a implementação de um modelo de autonomias regionais semelhante ao espanhol.
O estatuto de autonomia que será apresentado no sábado, de acordo com algumas fontes, dará aos governadores mais poderes para definir seu próprio orçamento, fazer obras públicas, estabelecer as diretrizes da política educacional na região e influenciar a indicação do alto comando da polícia. ¿Somos como um filho que, ao formar outra família, quer decidir como gastar seu dinheiro para atender suas novas necessidades, mas sem negar a autoridade do pai¿, explicou ao Estado um dos mentores do estatuto.
Segundo analistas, se fossem cumprir à risca suas promessas de independência, os governadores poderiam tomar medidas como fechar os aeroportos para não permitir a entrada de autoridades de La Paz, destituir os atuais comandos da polícia e conclamar os empresários a não pagarem seus impostos. Eles também não participariam do referendo sobre a nova Constituição do país, aprovada no domingo por parlamentares governistas.
¿Essas medidas, porém, não poderiam ser sustentadas no longo prazo e os governos regionais teriam poucas condições de tomar o controle da administração dos serviços e segurança pública de uma hora para outra¿, diz o analista político Fernando Mayorga, Universidade Maior de San Simón. ¿Como nenhum dos dois lados pode vencer um conflito armado, o mais provável é que eles tenham de retroceder e negociar¿.
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