Título: Crise modifica papel de emergentes
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2007, Economia, p. B4

Especialistas discutem influência dos problemas com o subprime nos fluxos externos para esses países em 2008

Uma mostra das incertezas provocadas pela crise das hipotecas nos Estados Unidos são as avaliações bastante díspares sobre o comportamento dos fluxos externos para os países emergentes no próximo ano. Há três teses principais entre os especialistas, com argumentos em direções opostas.

Há os que acreditam que os emergentes conseguirão passar longe das turbulências provocadas pelos problemas com o subprime e por uma desaceleração da economia dos Estados Unidos. O crescimento da atividade doméstica, a dependência menor da economia americana, a queda dos juros nos EUA, a busca por retornos mais expressivos e a obtenção do investment grade, no caso do Brasil, reforçam essa avaliação.

Outros analisam que o descolamento, a chamada ¿teoria do decoupling¿, acontecerá na economia real, que seguirá crescendo apoiada na maior estabilidade obtida nos últimos anos, mas não na financeira, mais volátil e exposta aos humores do mercado. Portanto, os fluxos teriam arrefecimento.

E existem ainda os que dizem que não há como os emergentes escaparem totalmente ilesos dessa situação, pois uma contaminação cedo ou tarde aparece. Na economia real, surge primeiro na retração das exportações.

No entanto, mesmo os defensores dessa terceira tese não vêem a possibilidade de retirada de capitais, mas sim de uma entrada menos intensa. Vale destacar que esses cenários se referem à possibilidade de desaceleração da economia americana. No caso de uma recessão, o pessimismo impera.

Na linha mais otimista está o chefe do departamento de pesquisas econômicas do Goldman Sachs, Jim O¿Neill, renomado pela criação da tese dos BRICs, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Ele mencionou a sigla pela primeira vez em 2001, dizendo que esse grupo poderia tornar-se a nova força do crescimento mundial. Segundo ele, o descolamento dos emergentes já está acontecendo, tanto na economia real como na financeira. Mostra disso, diz, é o comportamento da Bovespa, com alta próxima de 45% no ano, e da Bolsa da China, com ganho de 80%. ¿O mercado (dos emergentes) já se descolou, assim como a economia real¿, afirmou, em entrevista à Agência Estado na semana passada.

O¿Neill vai além e acredita que os emergentes estão ajudando os Estados Unidos a se recuperarem da crise, por causa da balança comercial. Ele cita que as exportações americanas estão crescendo três vezes mais do que as importações, algo inédito, estimuladas pelas compras dos BRICs. Além disso, argumenta que o mundo está menos dependente dos EUA.

O Scotiabank Group tem alguns argumentos na mesma linha. ¿A influência dos mercados emergentes em determinar a extensão do ciclo econômico mundial está aumentando¿, escreve a instituição em seu mais recente relatório. ¿Alguns países da América Latina em desenvolvimento estão sendo decisivos para a promoção de mudanças institucionais e para o desenvolvimento econômico da região. O Brasil emergiu como uma forte presença diplomática e no setor de manufatura.¿ O vice-presidente e diretor de pesquisa internacional do Scotiabank, Pablo Bread, avalia que o forte impulso do crescimento em mercados como China, Índia e Rússia compensará, em parte, um avanço mais lento dos países do G-7.

Para O¿Neill, do Goldman Sachs, o Brasil, especificamente, deve ter novos recordes de entrada de recursos em 2008. Afinal, diz, os investidores estarão em busca de retornos mais elevados. A tendência de queda dos juros nos EUA reforça esse ponto.

Em 2007, até outubro, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil acumula US$ 32,1 bilhões. A previsão do governo é de que atinja US$ 35 bilhões no ano - número que supera o recorde US$ 32,7 bilhões de 2000, em plena época de privatizações.

Os investimentos externos em títulos de renda fixa e ações também bateram recordes este ano. De janeiro a outubro de 2007, as aplicações estrangeiras em ações, estimuladas pelas IPOs, foram de US$ 19,094 bilhões, ante US$ 6,991 bilhões no mesmo período do ano passado, segundo o Banco Central. A renda fixa ainda supera a variável e recebeu US$ 22,736 bilhões no exterior até outubro, ante saída de US$ 2,465 bilhões em igual período de 2006.

Links Patrocinados