Título: Um salto para a frente
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2007, Notas e Informações, p. A3

Mesmo sob condições muitas vezes desfavoráveis a economia brasileira mostra um notável vigor. O surpreendente crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre mostra que a falta de apoio eficiente do governo em termos de infra-estrutura, o excesso de impostos, as dificuldades para colocar um negócio em funcionamento no País não são suficientes para conter o dinamismo da economia.

O PIB do terceiro trimestre deste ano foi 5,7% maior do que o de igual período do ano passado, de acordo com dados que acabam de ser divulgados pelo IBGE. No resultado acumulado do período de 12 meses encerrado em setembro, o aumento foi de 5,2% em relação aos 12 meses até setembro do ano passado. Um resultado ainda mais significativo é o crescimento de 1,7% do PIB no terceiro trimestre de 2007 em relação ao trimestre anterior. Se esse ritmo for mantido por quatro trimestres consecutivos, o crescimento acumulado será de 7%. Ou seja, entre julho e setembro, o PIB brasileiro cresceu ao ritmo de 7% ao ano.

Não estamos, ainda, alcançando o ritmo da China, mas certamente demos um importante salto para a frente e, se mantiver nos próximos meses um nível de atividade semelhante ao do terceiro trimestre, a economia brasileira estará entre as mais dinâmicas do mundo e estará se equiparando aos padrões de crescimento dos outros países do grupo de que faz parte, que a comunidade internacional identifica como Brics (Brasil, Rússia, Índia e China).

A expansão de 5,7% no terceiro trimestre de 2007, na comparação com igual período de 2006, é a maior desde o segundo trimestre de 2004. O crescimento foi puxado pela agropecuária, que cresceu 9,2% por causa da estimativa de alta da produção de trigo, de 59,3%, e da cana-de-açúcar, de 13,1%. A indústria de transformação cresceu 5,7% (mesma variação do PIB no período), por causa do desempenho dos setores de produtos químicos, máquinas e equipamentos, material elétrico e veículos. No setor de serviços, o destaque foi a área de intermediação financeira e seguros, com crescimento de 13,3%, por causa do aumento dos financiamentos concedidos pelos bancos.

O consumo das famílias aumentou 1,5% em relação ao segundo trimestre de 2007 e 6,0% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, por causa do aumento da massa salarial e do crédito bancário.

Já os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), aumentaram 4,5% em relação ao segundo trimestre de 2007 e 14,4% na comparação com o terceiro trimestre de 2006. Esse número confirma o notável desempenho da indústria nacional de bens de capital detectado por outras estatísticas do IBGE, como a da produção física industrial mensal, que apontou aumento de 20,1% da produção desses itens no terceiro trimestre, na comparação com o terceiro trimestre de 2006. Também cresce rapidamente a importação desses produtos. É um sinal de que o setor produtivo está preparado para continuar crescendo, sem gerar tensões inflacionárias graves.

Pode-se imaginar a que velocidade a economia brasileira estaria crescendo, caso o governo tivesse feito a sua parte.

No Brasil, além de impor uma carga pesada demais sobre o setor produtivo, o sistema tributário é altamente complexo, o que resulta em custos adicionais para os contribuintes. Mas, por envolverem negociações políticas complicadas, as mudanças necessárias vão sendo adiadas pelo governo. Na área de infra-estrutura, mesmo sem recursos suficientes para aplicar, apesar da brutal carga tributária, o governo hesitou em aceitar a participação do capital privado, o que só agora começa a fazer, e o resultado é a deplorável situação de áreas vitais para o crescimento, como transportes, portos, educação e saúde.

Na esfera microeconômica houve avanços na desburocratização, mas ainda é demorado e custoso abrir ou fechar empresas no Brasil; a obtenção de licenças, sobretudo a ambiental, continua sujeita a exigências excessivas; a legislação trabalhista inibe a contratação formal de trabalhadores; e a lentidão da Justiça e a falta de um ambiente regulatório confiável assustam os que pretendem investir em projetos de longo prazo de maturação, como são os projetos de infra-estrutura.

A única importante contribuição do governo para esse crescimento foi a manutenção da política monetária do seu antecessor.

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