Título: Algo de novo no velho front
Autor: Kramer, Dora
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2007, Nacional, p. A10

Com o PSDB perdido no vaivém de sempre e o PT preso ao dogma de que em time vencedor não se mexe, a novidade na cena partidária surge da representação do que havia de mais antigo na política brasileira: o PFL, que ontem oficializou a mudança de nome e a atualização do programa do partido.

Há léguas a percorrer antes que o velho pefelê convença, de fato, nessa nova versão Democratas e se livre das marcas adquiridas ao longo de uma vida inteira dedicada ao fisiologismo, ao governismo, ao clientelismo e ao conservadorismo.

Mas, justiça se faça, é o único partido hoje dedicado à tarefa de dar um passo à frente e oferecer ao eleitorado uma mercadoria muito bem definida, de inspiração liberal e atuação pragmática sem meios-tons.

Se é para fazer oposição, é para fazer de A a Z. Se é para defender uma proposta, é para defender na base do tudo ou nada, sem negociações que alterem o mérito da questão.

No caso ainda em curso da CPMF, o Democratas joga no princípio: é contra o imposto, fecha questão, aposta que pelo menos uma boa parte dos 60% da população também contrária lhe confira a vitória do discurso.

Com isso, conta se diferenciar do PSDB, cujas idas e vindas vão formando uma impressão exatamente oposta no eleitorado. Sem pretensão de disputar o eleitor de Lula - este dá como perdido - investe na sobra que hoje é minoria, mas anda órfã e em busca de um lar.

Para quem não tem quase nada, perdeu parlamentares a mancheias, tem um único governador e está à frente de apenas 6 das 100 cidades mais populosas do País, não há realmente muita saída a não ser a tentativa de se reinventar.

O Democratas afastou da linha de frente as antigas lideranças, renovou as direções regionais, mudou de rosto e tenta mudar de alma, elegendo bandeiras referidas na realidade do cidadão: segurança, meio ambiente, controle de gastos oficiais, redução de impostos, eficácia na prestação de serviços públicos.

Em princípio, está fora da disputa pela sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva e, até por isso mesmo, atua com mais liberdade para abrir um caminho e forjar uma imagem para recuperar a condição de força política eleitoralmente competitiva e socialmente reconhecida.

A expectativa do partido é atingir esse objetivo em mais duas ou três gerações eleitorais. Enquanto isso, vai seguindo a sua trilha, guiado, de um lado, pelas pesquisas de opinião e, de outro, pela convicção de que pode ocupar o espaço aberto pelo distanciamento entre a sociedade e o mundo da política.

As pesquisas já mostraram há algum tempo que o mote mais eficaz é o da segurança, confirmado pela última pesquisa do Ibope, mostrando que o tema é o campeão na escala de preocupações da sociedade.

Baseado nisso, o Democratas falará de segurança pública, mas também baterá nas teclas da segurança ambiental, segurança alimentar, educacional, de saúde, de renda, de direitos, garantias democráticas individuais e coletivas.

No quesito diálogo com a sociedade, investe na idéia da cidadania em substituição à ideologia, repudia o populismo que já praticou à larga em seus tempos de supremacia e passa o bastão aos mais jovens, confiando a eles a missão de encomendar as almas do passado nos funerais do partido do atraso.

Mercado futuro

O senador Tião Viana deixa a presidência interina do Senado com média alta entre seus pares no pré-vestibular que cursou nos últimos dois meses, para candidato a presidente em 2009.

Viana jogou para a platéia externa, mas sem desagradar ao eleitorado interno. Um exemplo: impôs a idéia de exposição dos gastos com verbas extras na internet, mas, passado mais de um mês, ela ainda não saiu do plano das boas intenções.

Segundo Tião Viana, os gabinetes estão ¿em treinamento¿ para a execução da complexa tarefa de digitação da prestação de contas de R$ 15 mil nos sites de cada senador.

Cara pálida

O PMDB usa em favor de Garibaldi Alves junto ao Palácio do Planalto o argumento de que ele, na presidência do Senado, será ¿confiável¿.

Considerando o histórico recente da Casa, esse conceito de confiabilidade é para lá de relativo. Do ponto de vista do público pagante, bem entendido.

Gingado

A doação de R$12 milhões federais para as escolas de samba do Rio de Janeiro lembra uma antiga capa de O Pasquim. Quando o então presidente José Sarney decretou a moratória.

Na manchete - fictícia, óbvio -, Ulysses Guimarães exortava o governo a pegar o dinheiro da dívida e ¿gastar tudo em besteira¿.

Hoje o País é mais sério, já não cabem moratórias e o humor foi substituído pela piada de mau gosto ou disfarçado em deslumbrada - quando não interesseira - bajulação.

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