Título: Um PIB vigoroso
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2007, Economia, p. B2

Desta vez não dá para botar defeito. Os resultados do PIB no terceiro trimestre vieram consistentes. Estão baseados no avanço do consumo, mas não há indicação de superaquecimento da economia.

A principal conseqüência desse resultado positivo é política. Muito figurão considerou errada a política econômica. Agora, ficou mais difícil criticar. Além disso, não é um motor queimando óleo, porque a inflação segue na meta. E tende a reforçar a aprovação ao governo Lula.

Perde força o discurso de que o setor produtivo está sendo sucateado e a economia, submetida a um irreversível processo de desindustrialização. Apesar do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida), dos juros altos e do câmbio adverso, a atividade econômica dá sinais de vigor.

É verdade que outros emergentes parecem ainda melhor. Os dados da revista The Economist mostram que a China cresce a 11,5%; a Índia, a 7,9%; a Rússia, a 7,2%; a Malásia, a 6,0%; e o Paquistão, a 6,4%. Mas o crescimento brasileiro é firme. A evolução de 5,7% sobre o terceiro trimestre do ano passado é a maior desde 2004. E vem sendo positiva desde 2002.

Seguem três observações:

(1) O investimento está respondendo. Seria preocupante se o consumo saísse a galope sem perspectivas de aumento da capacidade de produção. Não é o que acontece. Enquanto o consumo das famílias avança um pouco abaixo dos 6%, o investimento cresce mais do que o dobro deste. Até outubro, cresceu 12,4% quando comparado com o mesmo período de 2006. E em 12 meses, 12,1%. Isso, evidentemente, não é tudo. É preciso que a infra-estrutura não fique para trás. Ainda não foi afastada, por exemplo, a ameaça de apagão na oferta de energia elétrica. E, enquanto esse problema não for equacionado, o crescimento futuro estará comprometido.

(2) No segundo trimestre, os números correspondentes ao comportamento do setor agropecuário vieram inexplicavelmente acanhados. Mas o novo PIB tira o atraso: é uma alta de 4,3% no acumulado do ano e de 5,4% em 12 meses.

(3) Quanto maior a velocidade de agora, maior o embalo para o ano que vem. Um bom desempenho neste ano - e ele deve ser acima dos 5% - é garantia de que a economia já entra em 2008 com mais força do que entrou em 2007.

O lado ruim dessa notícia boa é, mais uma vez, político. Como das outras vezes, vai crescer a charanga de que este país não precisa de arrumação para progredir. Como exigem distribuição de contas a pagar e custos políticos, os projetos de reforma (previdenciária, tributária, trabalhista e política) serão mais insistentemente empurrados para dentro da gaveta.

Confira

Operação conjunta - Cinco grandes bancos centrais decidiram agir coordenadamente contra a crise dos créditos hipotecários podres. São o Fed (Estados Unidos), o Banco Central Europeu (da área do euro), o Banco da Inglaterra, o Banco do Canadá e o Banco da Suíça.

São remadores poderosos que, finalmente, estão remando na mesma direção.

O lado negativo é o de que agora ficou claro que a crise é mais grave do que antes admitida, a ponto de exigir ação conjunta de grande envergadura.

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