Título: 'São coisas da democracia', diz Lula
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2007, Nacional, p. A8

Em viagem à Venezuela, presidente avisou que só vai discutir derrubada do imposto do cheque hoje, no Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem ¿às coisas da democracia¿ a derrota de seu governo na votação da prorrogação da CPMF no Senado. A declaração foi feita durante viagem a Caracas, na Venezuela, no único momento de aproximação de um repórter brasileiro, que furou o esquema de segurança do Palácio de Miraflores e infiltrou-se entre as autoridades venezuelanas. ¿Falo sobre isso amanhã (hoje)¿, afirmou o presidente, quando entrava no carro que o levou ao aeroporto de Caracas, onde embarcou para São Paulo.

O Palácio do Planalto sempre soube que não tinha os 49 votos necessários para prorrogar o imposto do cheque por mais quatro anos. A revelação foi feita ontem por dois ministros, José Múcio, das Relações Institucionais, e Paulo Bernardo, do Planejamento.

À 1h25 de ontem, com a emenda derrotada no Senado, Múcio afirmou, em entrevista no Planalto: ¿Toda vez que fazíamos a ronda, chegávamos nos 45 votos.¿ Confessou também que o governo apostava na conquista de votos do PSDB e do DEM. ¿O Planalto achou que a oposição estava aberta ao diálogo.¿

Bernardo contou que na tarde de quarta-feira o presidente Lula já não tinha dúvida sobre a derrota. Antes de ir ao Palácio do Alvorada, para se preparar para a viagem à Venezuela, ele discutiu com assessores medidas alternativas a anunciar na próxima semana para compensar o fim do tributo.

Com frágil maioria no Senado, o próprio presidente investiu na pressão sobre aliados e adversários, adotando discursos públicos fortes e até agressivos. Com isso, ele esperava dobrar a resistência da oposição, mas acabou acirrando mais os ânimos no Congresso.

Lula voltou as baterias principalmente para o DEM, responsável pela resistência mais forte à CPMF. Chamou seus integrantes de ¿demos¿ e alinhou o partido com sonegadores, que seriam os únicos adversários da CPMF. Também adotou o discurso de ricos contra pobres, mas não conseguiu conquistar um voto sequer na oposição, fato raríssimo em votações que interessam ao governo.

¿O resultado dessa votação representa um choque de democracia¿, disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). ¿O governo agora vai ter de fazer as coisas com mais articulação política e com maior respeito à oposição. É uma mudança de eixo na política.¿

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), foi pela mesma linha. ¿Agora que o governo vai descer a níveis terrenos, poderemos começar um diálogo¿, declarou o senador tucano. COLABORARAM LU AIKO, TÂNIA MONTEIRO, JOÃO DOMINGOS e MARCELO DE MORAES

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