Título: 'As pessoas que votaram contra não usam o SUS'
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2007, Nacional, p. A8
Em discurso, presidente Lula reafirma compromisso com a disciplina fiscal e acusa oposição de ter causado prejuízo de R$ 24 bilhões à saúde
Em seu primeiro pronunciamento após a derrota na votação da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o governo não cometerá ¿irresponsabilidades¿ para compensar os R$ 40 bilhões anuais que seriam obtidos com a contribuição. Ao discursar para centenas de trabalhadores da Ford em São Bernardo do Campo, seu berço político, Lula empenhou-se em reafirmar o compromisso com a disciplina fiscal. Mas não perdeu a chance de cobrar a oposição. ¿Certamente, as pessoas que votaram contra (a CPMF) não usam o SUS. Se usassem o SUS, não votariam contra¿, atacou, referindo-se ao Sistema Único de Saúde.
Nos poucos minutos do discurso dedicados à CPMF, Lula garantiu a meta de superávit primário em 3,8% do PIB, a seriedade da política fiscal, a continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a nova política industrial. ¿Não pensem que porque os senadores votaram contra a CPMF vai haver alguma medida do governo de irresponsabilidade¿, disse Lula, que lembrou os tempos de líder sindical, com protestos na porta da mesma fábrica onde a montadora lançava ontem um novo automóvel. Depois, mandou o recado a senadores.
¿Se alguém votou contra (a CPMF) achando que aquilo poderia prejudicar o presidente, eles poderiam saber duas coisas: primeiro, o presidente não é mais candidato. Segundo, eles prejudicaram o próximo presidente da República¿, disse Lula. ¿Alguém vai ter de responder por que a saúde deixou de receber R$ 24 bilhões a mais; por que a saúde deixou de receber, a partir de 2010, mais R$ 80 bilhões.¿
PAC
O tom crítico acompanhou Lula durante o dia. Mais tarde, ao inaugurar um posto da Previdência Social na capital paulista, o presidente voltou a tocar no assunto: ¿No ano que vem, o PAC começa a funcionar. Só na área de reurbanização de favelas são R$ 40 bilhões. Não pensem que eu vou mexer nisso porque derrubaram a CPMF. Vai continuar¿, repetiu.
A cobrança poupou pelo menos um oposicionista. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que esteve ao lado de Lula na Ford, não apenas ganhou elogios, como mereceu o tratamento de ¿companheiro¿. ¿Companheiro governador do Estado de São Paulo, José Serra, a quem de público quero fazer o agradecimento pelo empenho que teve em tentar convencer os senadores da República de que não era possível tirar R$ 40 bilhões do Orçamento de uma hora para a outra¿, afirmou Lula.
A troca de afagos continuou ao longo da cerimônia. Serra, que foi vaiado no início do discurso, pegou carona em Lula e concluiu a fala sob aplausos. ¿Parabéns para o presidente da República por essa visita calorosa, ele, que nasceu aqui para a vida pública¿, disse o governador, que anunciou a renovação de um convênio que prevê a liberação de créditos de ICMS.
Lembrou que ele e Lula estiveram juntos em São Bernardo, em 1978. Na época, o presidente era líder sindical, Serra voltava do exílio e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concorria ao Senado. Em outra brincadeira, Lula aproveitou que Serra havia manifestado a intenção de recomendar o carro da Ford a uma prima. ¿Se ele for mais generoso e comprar um de presente para a mulher dele, já são dois.¿
Na Ford, Lula também se queixou das críticas recebidas em 2003, quando disse pela primeira vez que o Brasil viveria o ¿espetáculo do crescimento¿. E previu para este ano uma alta de 5,7% no PIB. ¿Quando eu falei aqui do espetáculo do crescimento, fui achincalhado.¿
Além disso, o presidente lembrou a crise do mensalão e agradeceu o apoio dos trabalhadores. ¿Tivemos um 2005 muito ruim. Amargo para mim e amargo para vocês. Até que vocês se levantaram e começaram a publicar uns adesivos espalhados por este país dizendo: `Mexeu com Lula, mexeu comigo¿.¿
CONTRATAÇÃO
Acusado pela oposição de promover o inchaço da máquina, Lula disse, ao inaugurar o posto da Previdência, que continuará contratando funcionários para os diversos setores do governo. ¿Se a gente quiser melhorar o atendimento nas agências (da Previdência Social), tem de contratar mais gente. Se quiser melhorar o atendimento médico para os doentes, tem de ter mais gente. Ora, como é possível melhorar as coisas se você não contrata mais?¿
Lula cobrou o funcionalismo. ¿O que lamento é que, às vezes, eu apanho da imprensa e vocês não fazem uma passeata `contrata mais¿.¿
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