Título: PT pagou advogado de quem havia acusado, diz ex-deputado
Autor: Lacerda, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2007, Economia, p. A22

Corrêa afirma que partido deu dinheiro para defesa de Ronivon Santiago

Autorizado pela Executiva Nacional do PP, o deputado José Janene negociou com o PT, em 2003, o pagamento do advogado Paulo Goyaz, que defendia o deputado Ronivon Santiago (PP) em 36 ações movidas pelo próprio PT no Acre. O dinheiro foi pago em espécie, em três parcelas - duas de R$ 300 mil numa agência do Banco Rural em Brasília e uma de R$ 100 mil em um hotel, também na capital. João Cláudio Genu, que trabalhava no gabinete de Janene, foi encarregado de receber o dinheiro repassado para Goyaz.

As declarações fazem parte do depoimento dado ontem pelo deputado cassado Pedro Corrêa, do PP, na 13ª Vara da Justiça Federal, no Recife. Ele é um dos 40 réus no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o esquema de compra de votos denunciado pelo deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Segundo Corrêa, o dinheiro foi entregue na sede do PP no Senado, mas nunca entrou na contabilidade do partido. ¿Foi repassado diretamente para o advogado.¿

Acusado de formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, ele disse que não teve ¿nenhum envolvimento nessa história¿ e que a Justiça vai desfazer a ¿injustiça a que foi submetido¿. Insistiu ainda em que nunca tinha visto o empresário Marcos Valério, apontado como operador do esquema, nem ouvira falar de mensalão até a denúncia de Jefferson.

Interrogado pelo juiz César Arthur Cavalcanti e pelos procuradores da República Luciano Sampaio Rolim e José Alfredo Paulo Silva, Corrêa contou que logo depois da posse do presidente Lula, no início de 2003, o deputado José Genoino - na época, presidente do PT - procurou o PP para que integrasse a base de sustentação do governo. Em abril, a aliança estava feita. Corrêa era segundo vice-presidente do partido.

Segundo ele, a última parcela, de R$ 100 mil, foi entregue por Simone Vasconcelos, então secretária de Valério. Corrêa disse não ter acompanhado de perto a transação. Garantiu, porém, que a função de João Cláudio Genu era servir de ¿mula¿, ou seja, como entregador.

O ex-deputado explicou que o PP costumava pagar as despesas advocatícias de seus deputados, mas na época estava sem dinheiro e não podia receber depósitos - sua conta estava bloqueada por causa de execuções judiciais trabalhistas. Disse que soube apenas que o PT iria arcar com parte das despesas da defesa de Ronivon, mas não sabia da origem do dinheiro.

Indagado por que o PT pagaria a defesa de um deputado acusado por petistas, respondeu: ¿Imagino que tenha sido por ser o causador dos problemas no Acre.¿ O pagamento não impediu a cassação de Santiago.

Corrêa insistiu em que nunca ouvira falar das empresas Natimar e Bonus Banval, que teriam sido usadas para lavar os R$ 4,1 milhões que Valério afirmou ter repassado ao PP. O deputado cassado disse ter aberto seu sigilo fiscal, telefônico e bancário e o de seus familiares para facilitar os trabalhos da Justiça.

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