Título: Grupo de Santa Cruz 'policia' cidade
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2007, Internacional, p. A26
Defensores da autonomia pretendem `blindar¿ local de manifestação, enquanto Evo põe soldados em alerta
Na falta de uma polícia própria, entidades e comitês cívicos do Departamento (equivalente a Estado) de Santa Cruz se organizaram para blindar a capital da região durante o comício de hoje, na qual autoridades locais darão início ao processo para conseguir autonomia em relação a La Paz. À frente da iniciativa, estava a União Juvenil Crucenha (UJC), a brigada de força do Comitê Cívico de Santa Cruz, acusada em diversas ocasiões pelo governo de atos de vandalismo e violência.
¿Cerca de 2.000 crucenhos vão ajudar a garantir a segurança da cidade¿, disse ao Estado Daniel Sejas, presidente da UJC, garantindo que todos estarão desarmados. ¿Vamos vigiar a entrada de Santa Cruz para não permitir que haja bloqueios. Se houver, vamos desfazê-los¿, completou, referindo-se aos anúncios de movimentos rurais e indígenas simpatizantes ao presidente Evo Morales de que fecharão as estradas para isolar Santa Cruz.
Jovens da UJC e de outras organizações juvenis também planejavam espalhar-se pelo centro da cidade para fazer a segurança do comício no qual o estatuto autonômico será apresentado. ¿Nunca falamos em tomar instituições estatais, mas simplesmente em defender o que de direito nos corresponde e corresponde às autonomias¿, afirmou Sejas, em entrevista ao jornal crucenho El Mundo.
Entidades pró-governo, concentradas na periferia, também se reuniram para definir como reagir ao protesto da oposição. Ao final, decidiu-se por também organizar uma manifestação, como parte de uma campanha de conscientização sobre o novo projeto de Constituição, elaborado pelo partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) e rejeitado pelos quatro departamentos.
Nos últimos dias, pelo menos 400 policiais foram enviados de Cochabamba para Santa Cruz, principal centro de oposição regional e o departamento mais rico da Bolívia. Caminhões carregados de policiais têm sido vistos entrando na cidade. O governador da região, Rubén Costas, também denunciou a presença de milhares de soldados que estariam posicionados no Chapare, região cocaleira de Cochabamba, prontos para invadir Santa Cruz, mas o governo nega. ¿Nem me passou pela cabeça decretar estado de sítio, mas vamos preservar a unidade nacional com legalidade¿, disse Evo ontem.
Na principal praça da cidade, dezenas de pessoas fazem greve de fome desde a semana passada para protestar contra o governo. As principais ruas de acesso ao local estão bloqueadas.
Ainda ontem, vários manifestantes queimaram um veículo do governo que tentava transportar documentos da antiga sede da Assembléia Constituinte, em Sucre. Segundo a imprensa local, os funcionários chegaram a ficar detidos por várias horas dentro do edifício. Há duas semanas, a aprovação da Carta na cidade levou a conflitos entre policiais e estudantes que deixou três mortos.
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