Título: Sérvia rejeita 'entrada rápida' na UE e critica missão para Kosovo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2007, Internacional, p. A30

Belgrado qualifica a proposta de `indecente¿ e diz que ela não compensa a perda da província

The Guardian

Reunidos ontem em Bruxelas para uma cúpula relâmpago de um único dia, os 27 líderes da União Européia (UE) decidiram enviar uma missão militar a Kosovo, para apoiar a independência da região, e ofereceram à Sérvia a aceleração do processo de entrada no bloco, como forma de compensar a perda da província.

O primeiro-ministro sérvio, Vojislav Kostunica, no entanto, recusou prontamente a afeta e criticou o envio de tropas da UE a Kosovo. ¿É um insulto desmembrar a Sérvia e depois oferecer-lhe um lugar no bloco como compensação¿, disse Kostunica. O chanceler sérvio, Vuk Jeremic, também condenou a sugestão. ¿É um proposta indecente¿, afirmou.

As tropas da UE substituiriam os soldados da Otan e preparariam Kosovo para a execução do Plano Ahtisaari, que concederia independência à província. Esse plano foi elaborado este ano pelo enviado especial da ONU, o ex-presidente finlandês Martti Ahtisaari, e propõe o envio de uma missão de 1.800 pessoas, entre civis e militares, para implementar a independência.

A proposta foi rejeitada pela Sérvia e pela Rússia. Mesmo dentro da UE não há unanimidade sobre o tema. Apesar de os quatro principais membros - França, Grã-Bretanha, Alemanha e Itália - pressionarem o resto do bloco e afirmarem que estão próximos de um consenso, diplomatas europeus confidenciaram essa semana que pelo menos 11 dos 27 membros não concordam com a declaração unilateral de independência de Kosovo.

Entre os votos contrários estariam Chipre, Eslováquia, Grécia e Romênia, países que convivem com minorias étnicas e temem que a independência do Kosovo seja um precedente para movimentos separatistas. Nos últimos dias, a Holanda também começou a questionar as bases legais para a separação de Kosovo.

Pelo raciocínio dos holandeses, a intervenção na região foi autorizada pela Resolução 1.244 do Conselho de Segurança da ONU, de junho de 1999, aprovada após os bombardeios da Otan, que diz que Kosovo é parte da Sérvia. Portanto, qualquer violação da resolução deveria ter a autorização da ONU - o que não aconteceria em razão do veto da Rússia.

Para a Sérvia, Kosovo tem um valor sentimental. A província é considerada o berço da civilização eslava e local onde estão as mais antigas igrejas ortodoxas. Nos anos 90, os nacionalistas sérvios, liderados pelo então presidente Slobodan Milosevic, decidiram responder com violência à fragmentação da Iugoslávia. A mesma violência que dominou as guerras da Croácia (1991-1995) e da Bósnia (1992-1995) chegou a Kosovo em 1998.

Na região, vivem 2 milhões de habitantes, dos quais 95% são albaneses e 100 mil sérvios. Milosevic tentou impedir a autonomia local por meio de assassinatos seletivos de albaneses, que foram seguidos de massacres de sérvios pela guerrilha kosovar.

A resposta do Ocidente foram 78 dias de ataques aéreos - realizados sem a autorização da ONU -, que expulsaram as tropas de Milosevic. Os EUA e a UE justificaram a ação pela necessidade de interromper violações dos direitos humanos. Foi o que o então premiê britânico Tony Blair chamou de ¿intervenção humanitária¿.

Os EUA e parte da UE usam o argumento da limpeza étnica para dizer que, por causa disso, os sérvios perderam o direito sobre Kosovo. Incentivados pelas promessas de ajuda diplomática, os kosovares recusaram todas as propostas sérvias feitas durante as negociações.

Ontem, o premiê de Kosovo, Hashmin Thaci, elogiou o envio da missão da UE e voltou a dizer que a independência da região ¿é uma questão de dias¿. A questão deve agora ser discutida no Conselho de Segurança, no dia 19. Caso não haja acordo, hipótese mais provável, Kosovo apenas aguardaria o sinal verde dos EUA para declarar a independência, que poderia acontecer ainda em janeiro.

Os americanos estariam esperando o resultado das eleições na Sérvia - marcadas para 21 de janeiro. Enfurecer os sérvios com uma independência forçada seria entregar o país aos nacionalistas, pró-Rússia, e afastar o país vez da esfera européia.

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