Título: Instituto Dr. Arnaldo será exclusivo para tratamento contra o câncer
Autor: Sant¿Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2007, Vida&, p. A34

Governo paulista decidiu mudar perfil do complexo, em construção há 18 anos e sem data prevista de inauguração

Um centro exclusivo para o tratamento do câncer. Essa é a solução que o governo do Estado quer para o Instituto Doutor Arnaldo (IDA). Após 18 anos de espera e seguidos adiamentos da inauguração, o governo estadual pretende agora mudar o perfil do hospital. A proposta foi feita na noite de anteontem pelo secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, para a diretoria da Fundação Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que deve administrar o empreendimento.

O ¿novo hospital¿, ainda sem data para ser aberto, deverá chamar-se Instituto de Oncologia de São Paulo (Ioesp). A idéia partiu do próprio governador José Serra e agradou aos membros da fundação. ¿O secretário tem uma proposta que nos interessou e ainda será avaliada pelo governador¿, diz Marcos Boulos, presidente da Fundação Faculdade de Medicina da USP. ¿Estamos mais preocupados em discutir a forma de gestão do hospital.¿

As obras do IDA começaram em 1989, na gestão de Orestes Quércia (PMDB) e passaram por outros três governadores até chegar à gestão de Serra. Apenas neste ano, duas datas de inauguração foram anunciadas. No entanto, os desentendimentos entre a Secretaria de Saúde e a Faculdade de Medicina da USP sobre a forma de gestão impediram que os 726 leitos do hospital - que já recebeu R$ 270 milhões de investimento - fossem abertos à população. Boa parte dos 23 andares já está equipada, o que torna o atraso um problema ainda maior.

A intenção inicial do governo paulista era de que o Instituto Doutor Arnaldo - originalmente projetado para ser o Hospital da Mulher - fosse administrado por uma Organização Social de Saúde (OSS). Como fará parte do complexo do Hospital das Clínicas (HC), o gestor mais indicado e preferido pelo governo era a própria fundação da USP.

Essa forma de gestão, no entanto, nunca agradou à diretoria da fundação e recentemente as desavenças entre as partes se tornaram públicas. Em setembro, em abaixo-assinado liderado pelo urologista Miguel Srougi, os médicos da USP deixaram clara a resistência.

No documento, Srougi denunciava o que para ele seria ¿uma situação de risco¿ para a fundação. O modelo de gestão poderia penalizar a FMUSP em momentos de impasse político ou de dificuldades financeiras do Estado.

A reação do governo estadual veio em seguida. Em outubro, um decreto publicado no Diário Oficial do Estado, assinado pelo governador José Serra, revogou a transferência do IDA para o HC. Desde então, as negociações não estavam evoluindo e outros parceiros para o projeto eram cogitados.

DESENCONTRO

Desta vez, apesar da boa receptividade dos médicos da USP, a forma de gestão ainda não parece clara - secretaria e fundação continuam dando informações diferentes. ¿Organização social eu posso garantir que não será¿, diz Boulos.

A nova forma de administração, no entanto, deve seguir o modelo dos outros 21 hospitais administrados por OSSs no Estado de São Paulo. O modelo estabelece regras - como número mínimo de procedimentos e teto para a remuneração do hospital. ¿Será um modelo parecido, mas organização social não será¿, reitera Boulos.

Em agosto, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) indeferiu uma liminar que contestava o modelo de gestão colocado em prática pelo então governador Mário Covas (PSDB). A ação era movida por PT e PDT e questionava a legislação, criada durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Quando finalmente estiver funcionando, o Ioesp - com seus 726 leitos - será o maior centro oncológico do mundo em número de vagas.

Com a mudança do projeto, por enquanto, os valores que devem ser repassados para a Fundação Faculdade de Medicina e o número de consultas e de procedimentos mensais ainda não foram definidos.

Links Patrocinados