Título: Aliança entre FHC e Bornhausen manteve oposição contra a CPMF
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2007, Nacional, p. A10

Governadores queriam fatia do tributo, mas os dois achavam essencial tirar a verba do governo em ano eleitoral

O que deu suporte à articulação bem-sucedida do PSDB e do DEM para pôr fim à CPMF na votação no Senado foi uma grande aliança, firmada no bastidor, entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)e o ex-senador Jorge Bornhausen (DEM). Diferentemente dos governadores, que se movimentavam para forçar o governo a dividir com os Estados e municípios os R$ 40 bilhões da CPMF previstos para 2008, Bornhausen e FHC trabalharam, desde o início, contra a prorrogação do tributo até 2011, por razões que vão além da alta carga tributária.

Os seis governadores tucanos e o do DEM, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, estavam de olho nos 20% da receita da contribuição, e os prefeitos em mais 10% , que seriam destinados aos municípios, proposta que tinha o apoio até de alguns governistas.

Fernando Henrique e Bornhausen, no entanto, nunca se convenceram de que conseguir estes recursos fosse um bom negócio para os governadores. Nem mesmo no caso dos dois presidenciáveis tucanos, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves. A avaliação dos dois caciques era outra.

O problema, na visão de ambos, eram os outros 70% da arrecadação da CPMF, que engordariam o caixa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O raciocínio é que, para Serra e Aécio, que estão com as finanças organizadas e dinheiro em caixa, os recursos da CPMF não seriam estratégicos a ponto de mudar a história administrativa de seus Estados e render votos extras em uma campanha.

Gastança

No caso do governo federal, porém, a avaliação de Fernando Henrique e Bornhausen era de que o volume de recursos seria suficiente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover a gastança e fazer política em ano de eleição, aniquilando qualquer ganho eleitoral que Serra e Aécio pudessem obter com a eventual partilha da arrecadação da CPMF com Estados e municípios.

AFINADOS

Foi com essa idéia na cabeça que Jorge Bornhausen mudou-se de Santa Catarina e sentou praça em São Paulo, onde as conversas e encontros reservados com Fernando Henrique e Serra são freqüentes. Seu filho e deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) não tem dúvida de que ele e o ex-presidente estão a cada dia mais afinados. Bem mais do que no tempo em que FHC governava o País.

Afinal, recorda o deputado, a CPMF surgiu de um racha no PFL, estimulado por Fernando Henrique em seu primeiro mandato. Em 1996, o então ministro da Saúde, Adib Jatene, propôs a contribuição, como forma de garantir novos recursos para melhorar serviços de sua área. Na condição de presidente do partido e senador à época, Jorge Bornhausen trabalhou para fechar a posição da bancada contra o imposto, mas perdeu a luta interna para o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). O senador baiano se convenceu de que Jatene tinha razão e de que a CPMF era necessária naquele momento.

Paulo Bornhausen afirma que não acredita em imposto criado para salvar setor algum do governo, mas nem por isto ataca quem entendeu de outra forma no passado. ¿As circunstâncias eram outras e o que vale é que, no cenário atual, este tributo não se justifica mais.¿

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