Título: Mapa de Bali é acordo histórico
Autor: Amorim,,Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2007, Vida&, p. A35

Conferência do Clima terminou ontem com concessões dos Estados Unidos e grupos ambientalistas céticos

Representantes de 190 países acordaram ontem, na Indonésia, diretrizes para um novo regime político contra o aquecimento global. O chamado ¿mapa do caminho de Bali¿, festejado por diplomatas e visto com ceticismo por ambientalistas, foi aceito no encerramento da 13ª Conferência do Clima (COP-13).

Frente à resistência por ações concretas, o resultado é histórico. O mapa tem o grande mérito de colocar no jogo os Estados Unidos (maior emissor do mundo de gases-estufa), ainda que em termos bastante confortáveis: fala de ações ou compromissos nacionais, não internacionais, para limitar e reduzir o lançamento no ar de dióxido de carbono, metano e outros gases que aprisionam o calor na Terra.

Mas a grande surpresa foi a aceitação, por parte do G-77+China, de ações de mitigação ¿mensuráveis, reportáveis e verificáveis¿. É uma mudança na posição dessas nações, que evitavam qualquer tipo de compromisso internacional. Com isso, os Estados Unidos perderam sua principal argumentação: que só aceitariam qualquer meta quando países em desenvolvimento, especialmente emergentes, também seguissem o mesmo caminho.

A COP-13 também entra na história da diplomacia por suas últimas horas. A plenária de adoção do texto foi palco de cenas incomuns para eventos das Nações Unidas. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, e o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, reapareceram em Bali para evitar desastre iminente: impasse total, quando nem mesmo um mapa pouco específico seria aceito.

Apesar de os presentes serem acostumados a pressões, humores estavam elevados, com palmas e vaias. Palavras duras levaram o secretário-executivo da Convenção do Clima, Yvo de Boer, a chorar e deixar o local por alguns minutos.

Mesmo com o caráter histórico da conferência, há ressalvas. O texto que fez delegados passarem noites viradas em negociação é só indicativo de intenções, uma pauta recheada de incertezas a ser remodelada em dois anos, para então formar um novo tratado climático para 2013.

O texto traz, por exemplo, que o tema é urgente e que ¿serão necessários cortes profundos nas emissões globais (de gases do efeito estufa) para atingir o objetivo final da Convenção¿: evitar as mudanças climáticas perigosas. Porém, não determina quanto corte é necessário e quem deve fazê-lo, frustrando organizações não-governamentais. Já a revisão do Protocolo de Kyoto, também votada ontem, cita o estudo de cortes entre 25% e 40%, em relação a 1990, até 2020.

As conclusões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que assombraram o mundo em 2007 e foram aceitas como a melhor ciência sobre o tema, só entraram como nota de rodapé. O feito, resultado da ação da delegação brasileira, ainda precisa ser considerado vitorioso, uma vez que americanos chegaram a duvidar de sua validade.

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