Título: País terá rede de observatórios
Autor: Orsi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2007, Vida&, p. A41

Projeto, que terá investimento de R$ 670 mil, prevê mais três bases fixas e dez itinerantes no território nacional

Gerado por correntes elétricas no núcleo do planeta, o campo magnético terrestre protege a vida na superfície - e os astronautas em órbita - das tempestades do Sol, tem papel fundamental nas telecomunicações, na navegação e, embora dois de seus efeitos mais notáveis se manifestem sobre a América do Sul, ainda não é suficientemente bem estudado nesta parte do mundo. O que pode começar a mudar, a partir do anúncio de um investimento de R$ 670 mil, feito pelo Observatório Nacional, para a montagem da Rede Brasileira de Observatórios Magnéticos (Rebom).

¿Os EUA têm uma dezena de observatórios fixos e centenas de bases móveis (para estudar o campo magnético)¿, diz o pesquisador indiano, naturalizado brasileiro, Nalin Badulal Trivedi, coordenador da implantação da Rebom. Mais modesta, a rede nacional prevê cinco estações fixas e dez móveis. Mesmo assim, diz Trivedi, o projeto preenche uma lacuna: atualmente, o Brasil tem apenas dois observatórios magnéticos em atividade permanente, ambos fixos. Um, construído em 1915, fica em Vassouras (RJ). O outro, em Tatuoca (PA), é de 1957.

Trivedi afirma que a necessidade de construir novos observatórios era reconhecida há tempo. ¿Trata-se de um investimento em infra-estrutura¿, afirma. ¿Finalmente obtivemos os recursos.¿

O diretor do Observatório Nacional, Sergio Luiz Fontes, explica que o acompanhamento do campo magnético da Terra, a partir do solo brasileiro, terá desde aplicações eminentemente práticas - como a elaboração de cartas magnéticas para o uso correto de bússolas, ou a análise magnética para a prospecção de recursos naturais no subsolo - até de ciência pura, como o estudo da Anomalia Magnética do Atlântico Sul e do Eletrojato Equatorial.

A anomalia é o ponto mais fraco do campo magnético terrestre, e até pouco tempo atrás seu centro estava sobre o Sudeste brasileiro - atualmente, encontra-se no Paraguai. Veículos espaciais precisam de blindagem especial para passar pela anomalia, já que é o campo magnético da Terra que protege os equipamentos e os astronautas em órbita das partículas de alta energia disparadas pelo Sol.

Já o eletrojato é uma corrente elétrica que circunda a Terra pelo equador magnético - que, assim como os pólos magnéticos, é inclinado em relação ao equador geográfico - a uma altitude de 100 quilômetros. O Brasil é o país que mais tem território sob o eletrojato. Segundo Fontes, a Rebom dedicará pelo menos dois anos ao acompanhamento desse fenômeno.

¿Além disso, há várias questões em aberto sobre o campo magnético terrestre¿, diz ele. ¿Não se entende ainda muito bem como o campo se mantém¿, exemplifica. Fontes diz que os equipamentos para os observatórios devem começar a chegar em meados de 2008, e as novas instalações devem estar funcionando até 2010. Dos três novos observatórios fixos, dois serão instalados na Amazônia e um no Distrito Federal.

O estudo da interação do campo magnético da Terra com os ventos de partículas solares vem ganhando importância com o aumento das redes de eletricidade e telecomunicações - em 1989, um grande blecaute que atingiu parte do Canadá foi atribuído a uma tempestade magnética desencadeada pelo Sol - e, embora as observações solares sejam feitas por satélites internacionais, observatórios no solo têm maior capacidade de monitoração do campo magnético terrestre, diz Fontes.

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