Título: 'Obrigação da família é ter cuidado'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2007, Vida&, p. A44

Brasileira, presidente da Organização Mundial da Família (OMF), da ONU, alerta os pais sobre os cuidados com a internet

Assim como existe um órgão responsável pela saúde (a OMS), pelo comércio (a OMC) um para a infância (Unicef) e outro para a educação, a ciência e a cultura (Unesco), a Organização das Nações Unidas (ONU) tem uma entidade que zela pela família. É a Organização Mundial da Família (OMF), dirigida há dez anos por uma brasileira, a médica Deisi Kusztra, de 56 anos, nascida em Curitiba (PR).

Ela passa o ano dividida entre Paris (onde fica a sede mundial da OMF), Curitiba (onde fica o escritório da presidência da OMF) e o resto do mundo. ¿Com o mesmo número de celular, você me encontra em qualquer lugar do mundo, menos na Etiópia e na Líbia, onde meu telefone não funciona¿, ela diz.

A OMF foi criada pela ONU em 1947, com o objetivo de reunir famílias européias separadas pela 2ª Guerra Mundial. Hoje, a entidade tem recursos para investir em programas de valorização da família e incentivar governos, empresas e entidades não-governamentais a fazer o mesmo trabalho.

No final do mês passado, a OMF realizou seu congresso mundial na Polônia. Das notícias que vieram de lá, a que mais chamou a atenção dizia que Deisi havia chamado a internet de ¿o grande inimigo da família¿. Ela falou ao Estado por telefone, de sua casa em Curitiba.

A internet é mesmo uma inimiga da família?

Não sei de onde essa notícia saiu. Eu não falei nada disso. Talvez o jornalista não tenha me entendido em polonês. Me perguntaram se a internet, de alguma maneira, interfere na família. Eu disse que sim. Por isso, temos de buscar meios de supervisão. Na televisão, por exemplo, há avisos que informam aos pais que determinado programa não é adequado para crianças. Na internet, há servidores que dão aos pais formas de controle. Minha filha começou a usar a internet quando tinha 13 anos. Eu fui ver o que era e ativei o controle parental. Nós sabemos que existem redes de crime organizado pela internet, redes de roubo, redes de pedofilia. E existem até adolescentes que combinam suicídio pela internet. Você acha que isso não afeta a família? Claro que afeta. É uma obrigação da família ter cuidado com o que os filhos vêem na internet.

A internet então não é uma inimiga da família?

Não é. Nós (da Organização Mundial da Família) fazemos nossas reuniões de executive board (conselho executivo) pela internet, temos nossa página na internet. É um meio excelente de comunicação. Existe educação a distância. Promovemos a inclusão digital.

Você recebeu reclamações por causa dessa suposta declaração de que a internet é inimiga da família?

Essa repercussão só tive no Brasil. Chegaram a me mandar e-mail fora de proporção. Nem vou responder. Isso não tem cabimento.

Quem é o grande inimigo da família hoje?

A pobreza é um inimigo da família, a má governança, a falta de moradia, a falta de acesso à saúde e à educação de qualidade, a falta de trabalho - de trabalho decente... Isso tudo é inimigo da família. Não vamos apontar a internet.

Os governos do mundo se preocupam com a família?

Os governos estão pensando na família. Alguns já têm até ministério para a família, como Austrália, Tunísia, Maldivas, Chile, Paraguai, Alemanha e Bélgica.

O Brasil não tem.

Não acompanho muito de perto, mas sei que o Ministério do Desenvolvimento Social trabalha alguma coisa na área da família. O Brasil tem uma série de políticas públicas , inclusive o carro-chefe é o Bolsa-Família.

O valores familiares variam conforme a cultura?

Com certeza. Tanto é que tivemos muita dificuldade nas Nações Unidas para definir a família. Por isso, passamos a adotar a expressão ¿todas as formas de família¿. Queremos respeitar todas as culturas, as leis que prevalecem em cada país. Não importa se a família é monogâmica, poligâmica, monoparental, hindu, cristã...

Famílias de pais homossexuais também?

Sim. Há países com leis que permitem isso. Nosso papel não é fazer nenhum tipo de lobby.

O que você pensa sobre a posição da Igreja Católica em relação às famílias de pais homossexuais?

Não saberia responder. Não tenho acesso a essas avaliações.

E a TFP (entidade conversadora Tradição, Família e Propriedade)?

Não conheço. Saí do Brasil em 1968 (e passo pouco tempo aqui).

O que, de concreto, saiu do encontro da Organização Mundial da Família no mês passado?

Fizemos um movimento de primeiras-damas e ex-primeiras-damas para políticas de prevenção da mortalidade materna, neonatal e infantil. Tivemos essa idéia porque muitas vezes o que acontece é que a primeira-dama deixa de ser primeira-dama e toda a sua experiência (na área social) é jogada no lixo. Queremos que os trabalhos tenham continuidade.

A primeira-dama do Brasil foi convidada?

Ela foi convidada, mas não esteve presente. Não sei afirmar a razão.

Passando tanto tempo fora do Brasil, como é a relação com a sua família?

A questão da distância não quer dizer nada, principalmente quando você tem a internet (risos).

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