Título: EUA e China concentram os riscos para a economia global
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2007, Economia, p. B4

Desaceleração americana já é fato; dúvida agora é se haverá recessão

O Brasil já não pega pneumonia quando os Estados Unidos espirram, mas pode sofrer um impacto mais sério se a própria economia americana pegar uma pneumonia. Que o país mais rico do mundo entra em 2008 com a economia desacelerando, já não restam mais dúvidas. A grande questão, agora, é a de saber se os Estados Unidos vão mergulhar ou não numa recessão - e, caso isso aconteça, qual será o impacto no resto do mundo e no Brasil.

Ben Bernanke, o chairman do Federal Reserve (Fed, banco central americano), está no momento vivendo o seu momento mais difícil desde que substituiu o mítico Alan Greenspan em 2006. Por um lado, já há projeções de recessão em 2008. Analistas do Morgan Stanley previram há poucos dias que o PIB americano terá crescimento zero nos 12 meses até o fim do terceiro trimestre de 2008. Por outro, a inflação dá sinais inquietantes, tendo registrado uma taxa acumulada em 12 meses de 4,3% em novembro.

Nesse cenário, em que há riscos nas duas pontas da equação da política monetária, o Fed já baixou sua taxa básica, os Fed Funds, de 5,25%, em setembro, para 4,25%. Além disso, ao longo dos últimos meses, e com força redobrada na última semana, o Fed juntou-se aos principais BCs do mundo em operações que já injetaram centenas de bilhões de dólares no sistema financeiro global, para evitar pânicos e reações em cadeia com a crise que se iniciou no segmento subprime (para emprestadores de alto risco) do mercado de crédito imobiliário americano.

É difícil prever como os desdobramentos da economia americana vão afetar o Brasil em 2008, porque se trata de um exercício de hipóteses encadeadas. Em primeiro lugar, é preciso saber se a desaceleração dos Estados Unidos será apenas um pouso forçado ou uma recessão. Em seguida, é preciso avaliar como cada um desses cenários influenciaria o Brasil.

E, por fim, é preciso estimar os efeitos indiretos: mesmo que não afete muito o Brasil diretamente, uma recessão americana pode provocar uma desaceleração na China e em outros países superdinâmicos do Leste Asiático, o que, por sua vez, poderia derrubar o preço das commodities, um dos alicerces do bom momento econômico brasileiro (já que garante a solidez externa por meio das exportações de matérias-primas, insumos básicos e produtos do agronegócio).

De qualquer maneira, os maiores riscos desdobram-se a partir da economia americana. ¿É claro que tudo piora com uma recessão americana, mas não esperamos isto¿, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, estrategista da Quest Investimentos. De forma menos aguda, a China também é vista como um potencial ponto inicial de turbulências, já que a economia continua superaquecida, uma bolha especulativa formou-se no mercado acionário e a inflação subiu para uma taxa anualizada de 6,9% em novembro.

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