Título: Contra Chávez, dolarização avança
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2007, Economia, p. B13

Governo corta 3 zeros na moeda atual e adota o bolívar forte em 1º de janeiro, mas mercado negro resiste

Tradicionalmente aficionada pela moeda americana, a Venezuela conseguiu finalmente ver sua economia dolarizada. Não bastaram as orientações nacionalistas do presidente Hugo Chávez nem as rigorosas medidas adotadas para coibir a ação dos doleiros. A segunda moeda de seus oito anos da administração Chávez, o bolívar forte, será adotada em 1º de janeiro, a partir do corte de três zeros no atual bolívar e sem nenhum atrativo adicional.

A política de controle rígido do câmbio e de preservação artificial do valor do dólar continuará firme, assim como a escalada inflacionária provocada pelo consumo em ascensão e pela falta de divisas americanas para cobrir a importação da larga lista de bens de consumo não produzidos no país.

De janeiro a novembro, os preços ao consumidor aumentaram em 18,6%. O ano deverá fechar com inflação de mais de 22%, nos cálculos do economista Asdrúbal Oliveros, da consultoria Ecoanalítica.

Há três anos, o dólar é cotado a 2.150 bolívares na Venezuela. Nas casas de câmbio, vale apenas 1.900 bolívares para a venda. Nas ruas, chega a ser vendido a 6 mil bolívares.

Essa disparidade provocou uma perda de US$ 12 bilhões nas reservas internacionais entre dezembro de 2006 e junho deste ano, quando totalizou US$ 25,213 bilhões. A atividade de doleiro tornou-se uma das mais lucrativas e, apesar da tentativa oficial de reprimi-la, prospera até mesmo em terrenos do governo. No estatal Hotel Alba (ex-Hilton), funcionários fazem uma segunda jornada como doleiros e, discretamente, trocam moedas com os turistas estrangeiros nos corredores.

MERCADO NEGRO

Nos últimos anos, numa novela conhecida no Brasil da década de 80 e início dos 90, turistas de aluguel têm sido contratados por empresários e pessoas mais abastadas para viagens ao exterior - até mesmo em vôos charter.

Com autorização para carregar um cartão de saques com US$ 5 mil, cotado no câmbio oficial, esses venezuelanos debitam todo o valor, descontam seus gastos e entregam o pacote de dólares ao seu patrocinador. Por esse meio, as empresas e pessoas físicas driblam a Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), o órgão que controla o câmbio com mão-de-ferro, e conseguem as moedas americanas necessárias para fechar contratos de importação. Esse mecanismo, em boa medida, garantiu a expansão de 31% nas importações deste ano.

Na semana passada, o governo venezuelano decidiu fechar o cerco ao mercado negro de dólar. Os meios de comunicação foram proibidos de divulgar a cotação paralela. Operações não declaradas de compra e venda acima de US$ 20 mil custarão de dois a seis anos de cadeia aos seus protagonistas, mais o pagamento do dobro do valor transacionado em multa.

Os cidadãos que têm mais de US$ 10 mil terão de declará-los ao Cadivi e as empresas que obtiverem as divisas por meios oficiais terão de exibir uma declaração oficial. Na última sexta-feira, circulavam rumores de que o governo adotaria um câmbio duplo - de 2.150 bolívares para o setor importador e de 3,5 mil bolívares para as operações com cartão de crédito.

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