Título: Mercosul faz 'cúpula da discórdia'
Autor: Palacios , Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2007, Economia, p. B3

Presidente uruguaio cancela banquete por desentendimentos com a Argentina e agrava tensão no bloco

¿O Mercosul não está para festas.¿. Com essas palavras, altos integrantes do governo do presidente uruguaio Tabaré Vázquez definiram o cinzento clima que está tomando conta dos preparativos da 34ª Cúpula de Ministros e Presidentes do Mercosul, que será realizada hoje e amanhã em Montevidéu.

A cúpula, segundo diplomatas de países integrantes do bloco, promete ser ¿pífia¿ e ¿morna¿, mas também cenário de trocas de farpas entre alguns presidentes, especialmente o anfitrião, Vázquez, e a vizinha Cristina Kirchner, que - para evitar o máximo de contato com o presidente uruguaio - desembarcaria em Montevidéu amanhã cedo, poucas horas antes do encerramento da cúpula. Os outros presidentes chegariam hoje até início da noite.

O único ponto alto deste convescote presidencial será a assinatura do acordo de livre comércio com Israel (ler ao lado). O resto do encontro promete ser um rejuntado de críticas dos ¿sócios pequenos¿ - o Uruguai e o Paraguai - contra as assimetrias econômicas e comerciais dos países ¿grandes¿, ou seja, o Brasil e a Argentina.

Vázquez cancelou o tradicional banquete que o país anfitrião costuma oferecer aos visitantes na noite da véspera do encerramento da cúpula do Mercosul. Esta será a primeira vez que tal jantar presidencial não ocorre. Por trás do cancelamento está a intensa crise com a Argentina, protagonizada pela fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia, instalada no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o Rio Uruguai, que divide os dois países.

A ¿Guerra da Celulose¿ agravou-se na semana passada, quando, no discurso de posse, Cristina Kirchner, reafirmou que o Uruguai é o vilão desta crise bilateral, já que não pediu permissão à Argentina para instalar a fábrica nas margens do rio que dividem. Em Montevidéu, Vázquez passará a presidência pro-tempore do Mercosul para a Argentina.

O presidente Lula desembarca em Montevidéu, hoje, em situação política fragilizada. A decisão do Senado de não aceitar a prorrogação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF) evidenciou a capacidade pouco refinada de negociação do governo.

Com esse fracasso, os parceiros do Mercosul certamente já estimaram as dificuldades adicionais para que o Palácio do Planalto consiga a aprovação pelo mesmo Senado em curto prazo, do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul. Durante a visita de Lula ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, no dia 13, em Caracas, o assunto não foi tocado em público. O protocolo deverá ser debatido no plenário da Câmara dos Deputados apenas no início de 2008. Se aprovada, seguirá para a etapa mais difícil, o Senado.

Depois de ausentar-se da Cúpula de Assunção, em junho, Chávez deverá desembarcar em Montevidéu tão alquebrado quanto Lula, após a derrota no referendo sobre sua proposta de reforma constitucional, no dia 2.

A perspectiva é que Chávez volte a pressionar o Mercosul para conseguir o mais breve possível sua entrada no bloco.

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