Título: Farc anunciam que vão libertar três reféns e entregá-los a Chávez
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2007, Internacional, p. A14

Serão soltas assessora de Ingrid Betancourt, seu filho nascido no cativeiro e deputada seqüestrada em 2001

Bogotá

A guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciou ontem que vai libertar três pessoas do grupo de 45 reféns políticos que mantém sob seu domínio e vai entregá-las ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. A informação foi divulgada pela agência de notícias cubana Prensa Latina, após o recebimento de um comunicado assinado pelo secretariado da guerrilha. De acordo com a nota, o grupo rebelde colocará em liberdade Clara Rojas - assessora de campanha da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, com quem foi seqüestrada em fevereiro de 2002 -, o filho que Clara teve com um guerrilheiro no cativeiro, Emanuel, e a deputada Consuelo González de Perdomo, refém desde 2001. No comunicado, as Farc afirmam que entregarão os reféns a Chávez ou a quem ele designar, mas não precisam a data da libertação. A guerrilha também insiste que o governo desmilitarize uma região do país para fazer as negociações.

Na nota divulgada a guerrilha também critica a decisão do presidente colombiano, Álvaro Uribe, de ter colocado um fim nas mediações que Chávez vinha fazendo entre o governo da Colômbia e as Farc, com a ajuda da senadora colombiana Piedad Cordoba. As Farc qualificaram a atitude de Uribe como ¿um ato de barbárie diplomática¿. No mês passado, Uribe decidiu encerrar as mediações que Chávez, que qualificou a atitude do presidente colombiano como uma ¿traição¿. Na época, Chávez disse que, se tivesse continuado como mediador, o líder máximo das Farc - conhecido como Manuel Marulanda - teria libertado alguns dos reféns até o Natal.

As Farc aproveitaram o comunicado para rejeitar a proposta de Uribe de criar uma ¿zona de encontro¿ para negociar o acordo humanitário. Na nota, a guerrilha reafirma sua principal exigência para a troca dos reféns por 500 guerrilheiros presos: a desmilitarização dos municípios de Florida e Pradera, no Departamento de Valle del Cauca, por 45 dias. O presidente explicou ontem que não aceita a exigência da guerrilha porque tem o ¿dever de evitar que os seqüestros na Colômbia aumentem¿.

CHÁVEZ

O presidente venezuelano confirmou ontem ter recebido um comunicado das Farc anunciando que havia ordenado a libertação dos três reféns. ¿Recebi a resposta de Marulanda adiantando que ele, como um gesto de boa vontade e desagravo, ia ordenar a libertação¿, disse Chávez ontem à tarde em Montevidéu, onde participou de uma reunião do Mercosul. ¿Isso parece ser um bom presente de Natal principalmente para as famílias dessas pessoas.¿ O líder venezuelano afirmou que agora está determinando quais serão seus próximos passos para recuperar os reféns que serão soltos. ¿Já temos algumas alternativas e nenhuma é fácil, pois essas pessoas estão no coração da selva, da montanha. Não posso ir até lá recebê-los pessoalmente, como eu desejava.¿

O ministro do Interior da Venezuela, Pedro Carreño, disse ontem que o governo da Colômbia deve reconhecer o esforço de Chávez no processo de libertação dos seqüestrados. No entanto, Uribe não mencionou Chávez quando comentou o anúncio. O presidente colombiano limitou-se a dizer que as Farc ainda não deram provas de vida de Clara e de Emanuel. ¿As Farc dizem ter 47 seqüestrados. Entregaram provas de vida de 16, mas não dos outros 31 reféns¿, disse Uribe, sem esclarecer os dois reféns que ele citou além do número oficial. Ele também insistiu em sua oferta do início do mês, de que os guerrilheiros que libertarem os reféns receberão benefícios jurídicos e recompensas. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, comemorou o anúncio e disse esperar que a decisão seja confirmada com fatos.

A mãe de Ingrid Betancourt, Yolanda Pulecio, pediu ontem ao grupo guerrilheiro que também liberte sua filha. ¿Dou graças a Deus que a guerrilha tenha tomado essa decisão e não tenho dúvida de que foi por causa da mediação do presidente Chávez¿, disse Yolanda. AFP, EFE E REUTERS

PERFIL DOS SEQÜESTRADOS

Clara Rojas - Advogada de Bogotá, foi seqüestrada em 23 de fevereiro de 2002, quando tinha 38 anos. Clara era assessora de Ingrid Betancourt, então senadora e candidata à presidência. Ambas foram presas quando viajavam pela estrada para San Vicente del Caguán, no sul do país, durante um ato de campanha. Na ocasião, os guerrilheiros disseram a Clara que poderia ir embora, mas ela decidiu acompanhar Ingrid. Os guerrilheiros deram a primeira prova de vida de Clara em 2002 por meio de uma fita de vídeo em que ela aparece ao lado de Ingrid. A segunda - e última prova de vida - foi uma fita divulgada em 2003 em que ela se dirigia à mãe.

Emmanuel Rojas - Filho de Clara, tem 3 anos e já nasceu seqüestrado. É fruto de um relacionamento da mãe com um guerrilheiro. Ninguém sabia de sua existência até que, em abril de 2006, o jornalista Jorge Enrique Botero, que passou algum tempo visitando campos rebeldes, lançou um livro contando sua história. Botero afirmou que o parto foi um ¿milagre¿, em razão das condições extremas em que foi feito. Recentemente, o policial John Frank Pinchao, companheiro de cativeiro de Clara que conseguiu fugir da selva, disse que o menino se chamava Emmanuel e que estava sendo criado pelos rebeldes, que diziam que o garoto era ¿metade da guerrilha¿.

Consuelo González Perdomo - Era representante do Departamento de Huila na Câmara dos Deputados quando foi seqüestrada, em 10 de setembro de 2001, na véspera dos atentados contra as Torres Gêmeas em Nova York. Ela é um dos seis congressistas que ainda estão em poder da guerrilha. Tem quatro filhas. Uma delas, Patricia, faz parte da ONG País Livre e da Comissão de Reparação às Vítimas das Farc. Segundo ela, não havia provas de vida da mãe desde 2003, quando foi divulgada uma carta assinada por ela. Seu marido, Jairo Perdomo, morreu quatro anos depois do seqüestro.

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