Título: Tabaré quer mais flexibilidade no Mercosul
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2007, Economia, p. B8

Presidente do Uruguai insiste na permissão para acordos fora do bloco

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, anfitrião da 24ª Cúpula de Presidentes do Mercosul, encerrada ontem, pediu que o bloco tenha ¿mais flexibilidade¿ e permita que ¿os países de economias menores possam ter acordos com países de fora da região, para poder superar as assimetrias¿. O motivo da declaração é o forte interesse do Uruguai em ter a permissão do Mercosul para negociar um Tratado de Livre Comércio com os EUA. Na contramão, a presidente Cristina Kirchner atacou de forma implícita os EUA, ao afirmar que ¿vizinhos¿ pretendem provocar a desunião e impedir a integração regional. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou o bloco a um filho cujos pais só enxergam coisas feias e nunca ressaltam seus pontos bonitos.

Segundo Cristina Kirchner, que ontem recebeu a presidência pro tempore do bloco que estava com o Uruguai, existe uma operação ¿suja¿ feita por governos que consideram que os países sul-americanos deveriam ser seus ¿empregados¿.

O presidente Vázquez admitiu ¿existir dificuldades¿ para avançar com a integração no Mercosul. Oncologista, fez uma alusão médica: ¿Os diagnósticos ajudam a curar... mas sozinhos não curam. É preciso ações concretas. Para que o processo regional caminhe é necessário um bom relacionamento entre todos¿.

Vázquez também ressaltou o acordo de livre comércio entre o Mercosul e Israel, assinado ontem. ¿Isso mostra a vontade que o bloco tem de abertura com outros países e blocos¿. O acordo é o primeiro assinado com um país fora do continente.

Mas o presidente uruguaio também ressaltou que no semestre que se encerra ficaram vários assuntos sem resolver, entre eles as assimetrias comerciais. ¿Também temos de assumir onde estamos na integração e ser conscientes sobre até onde podemos chegar. Queremos constituir uma zona aduaneira, mas construímos até agora uma zona de livre comércio com uma Tarifa Externa Comum (TEC) muito perfurada.¿

Discursos retóricos e as clássicas declarações de fraternidade sul-americana entremearam vários conflitos internos. O adiamento de decisões, outro clássico desses convescotes presidenciais semestrais, também foi a tônica do encontro. Entre os assuntos ¿sensíveis¿ sobre os quais não houve consenso e foram empurrados para 2008, estão as discussões sobre as assimetrias comerciais entre os países do bloco e o código aduaneiro comum.

Os analistas foram categóricos sobre a cúpula do Mercosul, indicando que foi plena em retórica, mas com poucos resultados concretos, recorrendo ao título da obra do dramaturgo inglês William Shakespeare, Muito barulho por nada.

Já nas discussões entre o Brasil e a Argentina houve algum avanço. Segundo porta-vozes da Chancelaria argentina, os chanceleres dos dois países confirmaram que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner realizarão duas reuniões anuais para avançar em diversos pontos da agenda bilateral

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