Título: Em menos de um mês, montadoras fazem recalls de 100 mil carros
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2007, Negocio, p. B13

Para fabricantes de autopeças, o número de defeitos pode ter crescido por causa da pressa em fazer lançamentos

A pressa das montadoras em lançar novos produtos e a necessidade de atender o aumento de demanda podem resultar em maior número de carros com defeito. Só este mês foram constatados problemas em quase 100 mil carros, e seus donos terão de voltar às concessionárias para providenciar o reparo. Ontem, a Citroën anunciou o recall de 18.186 modelos C3 e Xsara Picasso para a troca do interruptor do pedal do freio.

¿A maioria dos recalls envolve erro de projeto¿, diz o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças), Paulo Butori. ¿Parte do problema também pode ser a pressa das empresas em lançar novos produtos, até para acompanhar a concorrência.¿ Butori diz que outros fatores podem resultar em defeito de fabricação, como erro na concepção de engenharia, substituição de matérias-primas que depois não apresentam o resultado esperado, troca de ferramental na linha de produção e até problemas nas ruas e estradas do País. ¿Passar com o carro em um bueiro aberto é fora de qualquer padrão.¿

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, não vê o recall como fruto da urgência em atender consumo ou lançamento de produtos. ¿A indústria automobilística é pioneira em recalls e entende a medida como proteção ao consumidor.¿

O executivo afirma que os processos de engenharia e de homologação das peças para os carros são rigorosos. ¿O que ocorreu nesses dias pode ter sido uma coincidência¿, diz. De quinta-feira para cá, três montadoras anunciaram recall: a GM, a Renault e a Citroën.

Schneider lembra ainda que convocações recentes envolvem veículos importados. Portanto nada têm a ver com a pressa da indústria local em atender a pedidos. O setor vai bater recorde de vendas este ano, com 2,45 milhões de unidades.

GRAXA

A Citroën constatou que pode ocorrer superaquecimento do interruptor do pedal do freio, fazendo com que as luzes permaneçam acesas. Isso impossibilita que os outros motoristas recebam a informação de frenagem e redução de velocidade, com risco de acidentes. Para o gerente da empresa, Alessandro Paladino, o recall representa ¿maior controle de qualidade por parte das empresas¿.

Estão envolvidos no recall 4.987 Picassos e 13.199 C3s feitos entre 2006 e 2007. A Citroën informa que o superaquecimento ocorre por causa da aplicação de graxa na montagem do veículo, processo que foi alterado. Com a presença do produto, a temperatura dos terminais elétricos do interruptor pode aumentar, carbonizando a graxa. Isso provoca aquecimento e danifica o componente. A empresa diz que a capacidade de frenagem não é afetada e que não houve registro de acidentes.

Rodolfo Rizzotto, editor do site estradas.com.br, calcula que metade dos donos de veículos não atende ao recall, às vezes porque a convocação é ineficaz. Ele defende a proibição do licenciamento de carros que não atendam ao recall e a criação de órgão que fiscalize o setor.

Segundo Paulo Pacini, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o recall não exime a empresa de ter colocado à venda produto que atenta contra a segurança. ¿O cliente pode exigir indenização por danos que ocorram, mesmo que não tenha atendido ao recall.¿

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