Título: BC prevê déficit em conta corrente de US$ 3,5 bi em 2008
Autor: raner , Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2007, Economia, p. B1

Saldos comerciais mais magros e remessas de lucros mais encorpadas justificam virada nas expectativas

Após cinco anos de saldos positivos, a conta corrente do balanço de pagamentos (que registra as operações de comércio, serviços e rendas com o exterior) deve apresentar em 2008 saldo negativo de US$ 3,5 bilhões, segundo nova previsão do Banco Central divulgada ontem. Na estimativa anterior, há três meses, o BC esperava superávit de US$ 3,2 bilhões no próximo ano.

De janeiro a novembro, a conta corrente apresenta superávit de US$ 4,25 bilhões, mas o BC espera novo déficit em dezembro, de US$ 1,8 bilhão. Com isso, ela fecharia o ano com saldo positivo de US$ 2,4 bilhões.

A revisão feita pelo BC acompanha o movimento generalizado dos analistas, que cada vez mais prevêem déficits em 2008. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a perspectiva de saldo negativo para a conta corrente está relacionada com previsões de superávits menores na balança comercial e maiores remessas de lucros e dividendos.

Para a balança, a estimativa de saldo positivo em 2008 caiu de US$ 34 bilhões para US$ 30 bilhões, enquanto para as remessas a projeção passou de US$ 16,8 bilhões para US$ 20 bilhões. Esses dois fatores também foram utilizados por Altamir para explicar por que a conta corrente teve déficit de US$ 1,3 bilhão em novembro passado, acima dos US$ 700 milhões previstos pelo BC. ¿A balança veio abaixo do esperado e a remessa de lucros e dividendos, mais forte¿, afirmou.

As remessas somaram US$ 2,1 bilhões no mês passado e chegaram a US$ 18,12 bilhões de janeiro a novembro, o maior nível da série do BC. A balança comercial, no mesmo período, teve superávit de US$ 36,40 bilhões, US$ 5 bilhões inferior ao do mesmo período de 2006.

O que amenizou o impacto desses fatores foi o desempenho da conta de juros, que no ano acumula déficit de US$ 6,78 bilhões, bem abaixo dos US$ 10,26 bilhões de igual período de 2006. Foi o menor valor para os 11 meses desde 1994, graças às receitas com as reservas internacionais no acumulado do ano, de US$ 5,684 bilhões - melhor resultado da série.

Apesar da expectativa de déficit em conta corrente para 2008, Altamir Lopes não vê riscos para a economia. ¿Não afeta nada, porque o balanço de pagamentos continua financiável¿, disse ele, destacando a elevada projeção de Investimentos Estrangeiros Diretos e a expectativa do BC para investimentos em títulos e ações para 2008, que subiu de US$ 10 bilhões para US$ 26 bilhões.

O estrategista-chefe do banco BNP Paribas, Alexandre Lintz, também não vê riscos. Ele espera déficit de US$ 8 bilhões em 2008. ¿Não é uma dinâmica preocupante. É normal essa reversão em um país que está importando capital¿, afirmou, destacando que o movimento tem ajudado o Brasil a manter crescimento elevado com inflação baixa. Ele argumenta ainda que o déficit na conta corrente é financiável pelos investimentos no País.