Título: Putin tem fortuna de US$ 40 bilhões, diz jornal britânico
Autor: Harding, Luke
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2007, Internacional, p. A18

Segundo Guardian, dinheiro ilegal de líder russo reflete disputa entre grupos do Kremlin por ativos de estatais

Analistas políticos e várias outras fontes afirmam que grupos rivais no interior do Kremlin estão embrenhados numa luta pelo controle de bilhões de dólares em ativos pertencentes a corporações estatais russas. A disputa ocorre em meio à revelação de que Putin teria acumulado uma fortuna de US$ 40 bilhões por meio de participações de fundos de investimentos que, segundo dizem, estariam escondidos na Suíça e Liechtenstein.

Citando fontes de dentro do governo, o especialista em política russa Stanislav Belkovsky disse ao Guardian que Putin possui vastas propriedades em três companhias russas de petróleo e gás, escondidas atrás de uma ¿rede não transparente de fundos de investimento em paraísos fiscais¿.

Putin controla ¿efetivamente¿ 37% das ações da Surgutneftegaz, uma empresa de exploração de petróleo e a terceira maior produtora de petróleo da Rússia, no valor de U$ 20 bilhões, diz ele. Possui também 4,5% da Gazprom e ¿pelo menos 75%¿ da Gunvor, uma misteriosa trader de petróleo baseada na Suíça, fundada por Gennady Timchenko, um amigo do presidente, afirma Belkovsky.

¿O nome de Putin não aparece em nenhum registro de acionista, é claro. Existe um esquema não transparente de propriedades sucessivas de companhias e fundos em paraísos fiscais. O ponto final está em Zug (na Suíça) e Liechtenstein. Vladimir Putin seria o proprietário beneficiário. ¿

Belkovsky, que publicou um livro sobre as finanças de Putin no ano passado, é diretor do Instituto Estratégico Nacional, um centro de pesquisa de Moscou. Sua denúncia coincide com a informação, publicada ontem pelo jornal econômico Vedomosti, de que Putin assumiria a presidência da Gazprom em março, quando deixa o Kremlin.

TABU

A discussão sobre a riqueza de Putin era um tabu, mas algumas informações vazaram contra o pano de fundo de uma luta no interior do Kremlin entre um grupo liderado por Igor Sechin, o influente vice-chefe de gabinete de Putin, e um grupo ¿liberal¿ que inclui Dmitry Medvedev, o candidato a presidente escolhido por Putin para sucedê-lo.

O grupo de Sechin é formado por siloviki - funcionários do Kremlin com antecedentes nas Forças Armadas e no sistema de segurança. Ao que dizem, ele inclui Nikolai Patrushev, o chefe do Serviço Federal de Segurança (FSB), a agência sucessora da KGB na Rússia, seu vice Alexander Bortnikov, e o assessor de Putin Viktor Ivanov.

Os associados do campo liberal incluem Roman Abramovich, o oligarca russo e dono do clube de futebol Chelsea que é próximo de Putin e da família Yeltsin. Outros membros são Viktor Cherkesov, o chefe do serviço federal de controle de drogas, e Alisher Usmanov, um bilionário de origem usbeque.

Fontes informadas dizem que a luta tem pouco a ver com ideologia. Eles a caracterizam com uma guerra entre competidores empresariais. A decisão de Putin de endossar para a presidência Medvedev - que não tem vínculos com os serviços secretos - representou um rude golpe para o grupo de linha dura de Sechin, acrescentaram as fontes.

Alguns analistas disseram que Putin queria se aposentar, mas foi obrigado a seguir em frente para proteger Medvedev de uma conspiração dos siloviki. Segundo Elena Panfilova, diretora da Transparência Internacional na Rússia, a corrupção ¿aleatória¿ dos anos 1990 cedeu lugar à ¿corrupção sistêmica e institucionalizada¿ da era Putin. Membros do gabinete de Putin controlam pessoalmente os setores mais importantes da economia - petróleo, gás e defesa. Medvedev é presidente da Gazprom; Sechin dirige a Rosneft; outros ministros são presidentes de ferrovias russas, da Aeroflot, de uma gigante de combustível nuclear e de uma empresa de transporte de energia.

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