Título: Lula: 2008 será infinitamente melhor
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2007, Economia, p. B5
Em programa de rádio, presidente evita mencionar os problemas e esbanja otimismo com o crescimento do País
Vera Rosa
Animado com a perspectiva de crescimento econômico de 5% no próximo ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem, no programa semanal de rádio Café com o Presidente, que 2008 será ¿infinitamente melhor¿ do que este ano. Sem comentar os percalços que ainda terá de enfrentar por causa da rejeição da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) pelo Senado, Lula aproveitou o clima natalino para espantar os problemas e só mencionar coisas boas.
Pouco antes do almoço, ontem, o presidente também telefonou para os governadores, do Palácio do Planalto, onde deu expediente. Conseguiu conversar com quase todos: além de cumprimentá-los pelo Natal, desejou dias melhores em 2008. Na lista, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves - ambos do PSDB -, com quem tratou, durante o ano, de assuntos espinhosos, como dívida dos Estados, reforma tributária e a polêmica proposta do fim da reeleição.
No programa de rádio, Lula investiu no otimismo e no estilo paz e amor que marcou suas duas últimas campanhas. ¿Eu termino o ano muito alegre, muito feliz e muito otimista com o futuro do Brasil¿, disse ele. ¿O Brasil está preparado para um grande ciclo de crescimento sustentável¿, emendou, lembrando os R$ 504 bilhões previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Não citou, porém, os cortes que terão de ser feitos para compensar o rombo de R$ 40 bilhões, provocado pelo fim da CPMF.
¿Eu vou continuar trabalhando de forma muito vigorosa para que o Brasil possa melhorar muito em 2008.¿ Apesar de ressalvar que não se pode achar tudo maravilhoso e que gostaria de ver o Brasil melhor, Lula passou o programa elogiando os feitos de seu governo e o ¿momento excepcional¿ do País. ¿É o orgulho de um presidente da República que vê que o povo está vivendo mais feliz¿, justificou.
Ao contrário da semana anterior, quando, em café da manhã com jornalistas, revelou preocupação com a crise financeira dos Estados Unidos - sob a alegação de que ninguém sabe o seu tamanho -, o presidente falou aos ouvintes como se não houvesse nuvem no horizonte.
A crise de crédito americana é, atualmente, a maior fonte de incerteza sobre o futuro da economia porque os reflexos no Brasil ainda são desconhecidos. Lula, porém, não quis saber de turbulências na véspera do Natal. No penúltimo programa de rádio do ano, ele voltou a mostrar empolgação com pesquisa do Datafolha, indicando que 20 milhões de brasileiros migraram, nos últimos cinco anos, de camadas mais baixas (D e E) para a classe C. Desde que o Senado rejeitou a CPMF, há 12 dias, esta foi a informação que mais o animou, e é repetida aos mais variados interlocutores, em conversas no Planalto.
¿Quem está indo ao shopping, quem está indo a um lugar em que se vende muito, percebe que o povo pobre está comprando, está indo às compras. Significa o quê? Significa que essas pessoas estão tendo ascensão na sua vida pessoal, (...) estão fazendo parte do mercado, virando consumidores, o que é extremamente importante¿, disse Lula no programa de rádio.
No rol dos temas que o deixam otimista, o presidente mencionou o crescimento do emprego com carteira assinada neste ano - ¿quase 2 milhões até o dia 30 de novembro¿ -, os acordos salariais acima da inflação, o aumento da capacidade produtiva e os investimentos das empresas. Disse, ainda, que os projetos previstos no PAC começarão a ¿desovar¿ em 2008, gerando mais empregos e renda.
Na semana passada, Lula pediu aos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, que apresentem até o fim da primeira quinzena de janeiro um plano para lipoaspirar ¿gorduras¿ do Orçamento e ajustar a receita aos gastos. Embora tenha afirmado que não haverá pacote para compensar a perda da CPMF, é grande a possibilidade de aumento das alíquotas de tributos, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Imposto sobre Serviços (ISS) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Na prática, a equipe econômica avalia que não serão apenas tesouradas nas despesas que resolverão o problema. ¿Se tiver gordura para tirar, a gente faz um regime cetônico, vai retirando essas gordurinhas¿, comentou Lula, na quinta-feira, em café da manhã com repórteres. ¿Mas todo mundo sabe que tenho ojeriza à palavra pacote.¿ O presidente passará hoje o Natal com a família, na Granja do Torto, mas na quarta-feira retornará ao trabalho: tem reunião com a coordenação política do governo e com Mantega.
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