Título: Chávez nega troca de armamento por reféns
Autor: Barba, Mariana Della
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/12/2007, Internacional, p. A12

`Nada disso é verdade¿, diz o presidente venezuelano, acusando os EUA de promover `intrigas¿

Usando canetas coloridas para riscar um mapa que mostrava a Venezuela e a Colômbia, o presidente Hugo Chávez bancou o estrategista militar para explicar seu plano para resgatar os reféns das Farc. Mas o papel de herói emocionado que assumiu ontem por diversas vezes durante entrevista no Palácio de Miraflores - ¿apenas a motivação humanitária me interessa¿ - foi substituído pela irritação quando se defendeu de rumores sobre um possível acordo secreto com a guerrilha colombiana. ¿Há acusações de que apoiamos as Farc doando armas, mas nada disso é verdade¿, afirmou Chávez, transferindo a culpa para o ¿império¿, como chama os EUA. ¿Isso me dói muito, porque quando conversei com (o presidente francês, Nicolas) Sarkozy, estava pronta a fórmula para libertar não três, mas todos os reféns. Mas vocês sabem o que ocorreu. Intrigas e pressões inimagináveis do governo americano sobre Álvaro Uribe. Eles (os EUA) andam conspirando contra mim.¿

O cientista político venezuelano Omar Noria, da Universidade Simón Bolívar, acredita que Chávez conseguiu, sim, traçar uma estratégia eficaz, mas põe sob suspeita os meios para realizá-la. ¿Pensar em generosidade humanitária por parte das Farc é algo complicado¿, disse Noria ao Estado. ¿Talvez seja melhor olhar para as motivações políticas e mesmo para a financeira.¿ A suspeita de que Chávez tenha aberto os cofres venezuelanos é acompanhada pela de que ele forneceu aos guerrilheiros, segundo fontes ligadas a setores de inteligência, mil fuzis AK-47 e 1 milhão de cartuchos de munição, que teriam sido negociados pela Venezuela com contrabandistas de armas.

Noria diz que, seja como for, o venezuelano consegiu dois feitos de uma vez só. ¿Por um lado, ele ganhou muitos pontos no cenário internacional e melhorou sua imagem externa, que estava bastante desgastada. Por outro, acabou aliviando as tensões nas relações entre Venezuela e Colômbia, prejudicadas depois que Uribe o tirou do processo de negociação com as Farc.¿

O especialista diz ainda que o plano de Chávez é eficaz porque deixou as Farc sem desculpas. ¿Foi um trabalho feito com muita inteligência, porque agora os guerrilheiros têm o compromisso não só de Uribe, mas também de diversos líderes latino-americanos.¿ Apesar desse sucesso diplomático de Chávez, Noria acredita que Uribe não o reintegrará no papel de mediador oficial com a guerrilha. ¿Uribe jamais aceitaria isso, porque seria indigno com a soberania da Colômbia, depois que Chávez o insultou publicamente.¿

Chávez negou que tenha um canal aberto diretamente com os líderes das Farc. ¿Não temos um contato permanente e fluido com as Farc. Converso, sim, com Iván Márquez (membro do secretariado do grupo). Às vezes nem usamos mensageiro, fazemos contato através da internet. E freqüentemente demoramos até uma semana para receber alguma resposta.¿

Mesmo sem o papel de negociador oficial, Chávez pode continuar nas negociações, já que se mostrou empenhado em libertar um segundo grupo de reféns, entre estes a ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt. ¿Se o plano de Chávez der certo, abrirá um bom precedente para o caso dela¿, disse Noria.

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