Título: Múcio faz política com emendas e bolo-de-rolo
Autor: Vera Rosa; Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2007, Nacional, p. A10

Ministro das Relações Institucionais enfrentou romaria de parlamentares oferecendo doce típico de Pernambuco para desarmar os ânimos

Com um bolo-de-rolo na mão e a bandeira de Pernambuco no gabinete, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), recebeu nada menos do que 150 deputados e senadores de terça a quinta-feira, véspera do prazo fatal para os políticos emplacarem suas emendas ao Orçamento. Desde que o Senado rejeitou a CPMF, há 11 dias, parlamentares engrossaram a romaria diante da sala de Múcio, no 4º andar do Planalto. Para adoçar a boca dos antigos colegas, o ministro não teve dúvida: recorreu à irresistível sobremesa de sua terra.

¿O bolo-de-rolo é o prato típico desse ministério porque aqui só tem rolo¿, afirmou Múcio, deliciando-se com a iguaria, um tipo de rocambole com recheio de goiabada que já tirou muito político da dieta. Na quarta-feira, entre um pedido de cargo aqui e uma cobrança para liberação de emenda ali, ele foi logo apresentando a guloseima, espécie de sossega-leão, especialmente ¿importada¿ da Casa dos Frios, no Recife, por R$ 22,50 o quilo. Só depois dessa etapa adocicada avisou os interlocutores de que os postos vagos vinculados ao Ministério de Minas e Energia serão preenchidos apenas em janeiro.

Empanturrados, os chorões não tiveram mais coragem de reclamar. Foi o deputado Sílvio Costa (PMN-PE) que sugeriu a Múcio a estratégia. ¿Você diz assim: `Posso não resolver o seu rolo, mas lhe ofereço um pedaço de bolo¿¿, recomendou Costa. Funcionou.

Há apenas um mês no cargo, Múcio substituiu Walfrido Mares Guia, que deixou o governo em novembro após ser denunciado pelo Ministério Público no mensalão tucano. Impressionado com sua agenda superlotada, o novo ministro, um deputado licenciado, é conhecido por não perder a piada. Além de adotar o bolo-de-rolo no Planalto, tem na ponta da língua uma resposta a quem lhe deseja ¿boa sorte¿ naquela cadeira, pela qual já passaram cinco ocupantes. ¿Preciso de orações¿, devolve. ¿Aqui tem o grupo dos ressentidos e dos contemplados e o desafio é não deixar que os ressentidos se juntem à oposição.¿

PÂNICO

Nos últimos dias deste mês, a correria por uma audiência com Múcio cresceu na mesma proporção do desespero parlamentar. Apavorados com a perspectiva de tesourada nos gastos em 2008 - anunciada após a derrota do governo na votação da CPMF -, deputados e senadores queriam a todo custo garantir seu quinhão com a liberação prévia de verba para emendas.

¿Virou a síndrome do pânico¿, comparou Múcio. Na quarta-feira, dia em que o Planalto conseguiu aprovar no Senado a prorrogação da DRU, a romaria aumentou tanto que não havia nem lugar nos surrados sofás do corredor do 4º andar. ¿Tem mais gente aqui do que no plenário¿, atestou o deputado Rocha Loures (PMDB-PR).

Apesar do ingrediente de toma-lá-dá-cá às vésperas de votações importantes, o discurso oficial é de que as verbas autorizadas para investimentos sempre são maiores nesta época. Até o fim de novembro, o governo já havia empenhado R$ 2,56 bilhões em projetos propostos pelos parlamentares e a expectativa é de que engorde a cifra, fechando o ano com pelo menos mais R$ 2 bilhões. Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, os principais alvos do ajuste destinado a cobrir o rombo provocado com o fim da CPMF são as emendas de bancada.

¿Eu não sei que guerra o Paulo Bernardo quer declarar com essa proposta, se Canudos ou Cabanada¿, ironizou Ideli Salvatti (SC), líder do PT no Senado e companheira de Bernardo no partido. ¿Não serão só ajustes e cortes que taparão o buraco aberto pela oposição.¿ Nos corredores do Planalto, Sílvio Costa propôs que a guilhotina no Orçamento atinja apenas os adversários. Diplomático, Múcio saiu pela tangente: ¿Todo mundo defende o corte, mas sempre na emenda dos outros.¿ E recorreu a seu mote preferido para explicar por que é difícil fechar essa equação. ¿Vejam só o tamanho do rolo!¿

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