Título: Lula: 'Não fiquei nervoso nem fui derrotado'
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2007, Nacional, p. A11

Presidente garante que não haverá comprometimento dos programas sociais por conta do fim da CPMF

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que suas relações com o Congresso não sofrerão mudanças por causa da derrota na votação da CPMF. ¿De vez em quando, as pessoas acham que o presidente ficou nervoso porque foi derrotado. Nem eu fiquei nervoso nem eu fui derrotado.¿

Lula participou da celebração do Natal da Vida e Cidadania dos catadores de papel e moradores de rua de São Paulo, gesto que repete desde 2003, ano de sua primeira posse. A cerimônia ocorreu na Casa da Oração do Povo da Rua, no bairro da Luz. Ali, sob coordenação do padre Júlio Lancelotti, moradores de rua aprendem ofícios e encontram apoio.

Lula abraçou padre Júlio e o chamou de grande companheiro. ¿A gente não tem de ter vergonha de um amigo. Companheiro é coisa tão sagrada que a gente constrói ao longo de muitos anos, de muita solidariedade¿, afirmou.

O afago do presidente foi a redenção do religioso, que vive uma página infeliz de sua história - envolvido em uma trama policial de extorsão.

O presidente ouviu relatos sobre atrocidades e preconceitos infligidos a desamparados de São Paulo, Paraná e Minas. Samuel Rodrigues, do Movimento Nacional da População de Rua, denunciou: ¿Belo Horizonte assiste ao último direito. À noite a polícia acua o morador de rua, que perdeu até o direito de estender o cobertor.¿

Lula conheceu o protótipo de um carrinho elétrico que técnicos da Itaipu Binacional produziram a pedido da primeira-dama, Marisa Letícia, que poderá ser usado pelos catadores. ¿É para ninguém mais ter de puxar carroça¿, disse.

Depois da festa, Lula falou sobre a CPMF. ¿Não foi eu quem criou (o imposto do cheque). A sociedade, sobretudo a parte mais pobre, precisava da CPMF. As pessoas (senadores) que votaram sabem disso. Temos de encarar isso como o resultado da prática democrática. Criamos regras, regimentos, normas, e quando são utilizadas a gente perde e ganha.¿

Lula reconheceu necessidade de ajustes no Orçamento, mas fez um alerta. ¿Os senadores que votaram a favor e os que votaram contra sabem que é preciso encontrar uma fórmula para colocar o dinheiro que estava previsto para a saúde. Havia duas possibilidades. Uma era colocar R$ 24 bilhões e a outra, R$ 40 bilhões até 2010. O que significaria a gente garantir médicos, dar escola para crianças, dentista, oftalmologista e isso agora vai parar até que Congresso e governo encontrem uma solução.¿

Ele pediu entendimento, ¿com muita conversa e política de convencimento com todo mundo.¿ ¿Cada senador vale um voto¿, prosseguiu. ¿O Brasil teve momentos mais fáceis em que o Congresso não apitava nada porque foi fechado. Queremos o Congresso o mais livre e autônomo possível.¿

Admitiu corte de despesas. ¿Vamos ver o que vai ser criado de novo para poder compatibilizar os R$ 40 bilhões.¿ Mas disse que não haverá comprometimento dos programas sociais. ¿Não haverá um centavo de corte nas políticas sociais e no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Temos de tomar decisões rapidamente. É preciso conversar com todos os atores da política, com os ministérios.¿

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