Título: Distúrbios matam 14 e opositor decide boicotar eleições
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2007, Internacional, p. A8

Partidários de Benazir bloqueiam estradas e queimam carros; para Sharif, voto livre com Musharraf é impossível

Lahore,Paquistão

Pelo menos 14 pessoas morreram ontem nos distúrbios ocorridos em várias cidades do Paquistão após o assassinato da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto. Em meio à onda de violência, o ex-premiê Nawaz Sharif anunciou que boicotará as eleições parlamentares do dia 8.

O assassinato de Benazir aprofundou a crise política do país e criou um vazio na liderança do maior partido de oposição, o Partido Popular do Paquistão, apontado como o provável vencedor das eleições do dia 8.

Dez pessoas morreram em tiroteios na cidade sulista de Karachi, onde partidários de Benazir incendiaram vários veículos e postos de gasolina, disse a polícia. Outras duas pessoas morreram na cidade de Lahore (oeste), onde seguidores da líder opositora também incendiaram lojas, ônibus e carros. A polícia disparou contra enfurecidos manifestantes na localidade de Tando Allahyar, na Província de Sindh, matando uma pessoa. Outro homem morreu durante um tiroteio no distrito de Khaipur, também em Sindh, a província natal de Benazir.

Manifestantes bloquearam várias estradas do país e gritaram slogans contra o presidente Pervez Musharraf, acusando-o de cumplicidade na morte de Benazir.

Após escapar ilesa, em 18 de outubro, de um atentado que deixou cerca de 140 mortos em Karachi, Benazir acusou o serviço secreto de tentar assassiná-la. O atentado de Karachi ocorreu no dia em que Benazir voltou ao Paquistão após oito anos vivendo no exterior. Ela se havia exilado para escapar de acusações de corrupção. Musharraf permitiu a volta da ex-premiê esperando obter seu apoio para manter-se no cargo de presidente.

Em 3 de novembro, Musharraf decretou estado de emergência e destituiu seis juízes da Suprema Corte que ameaçavam invalidar sua reeleição, em 6 de outubro. Ele disse que adotou a medida para conter a crescente violência de radicais islâmicos e a ingerência do Supremo em questões do governo. Benazir voltou-se então contra o presidente e o pressionou a deixar a chefia do Exército e a acabar com o estado de exceção (levantado em 15 de dezembro). Ela chegou a ameaçar boicotar as eleições parlamentares, mas decidiu levar adiante sua campanha ¿pelo futuro e pela democracia do país¿.

O ex-premiê Sharif anunciou que seu partido, a Liga Muçulmana do Paquistão, boicotará as eleições do dia 8 por causa do assassinato de Benazir. ¿Eleições livres não são possíveis com a presença de Musharraf¿, declarou. ¿Musharraf é a raiz de todos os problemas¿, enfatizou Sharif, um antigo rival de Benazir que se unira recentemente à ex-premiê contra Musharraf.

Sharif questionou se as eleições deveriam ser realizadas sem Benazir e rejeitou as sugestões de que ele teria ganhos políticos com a morte da ex-premiê. No hospital de Rawalpindi para onde Benazir foi levada, Sharif prometeu, chorando, vingar a morte da ex-premiê. AP, REUTERS E AFP

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