Título: Alta da inflação é risco maior do que crise internacional, alerta BC
Autor: Gobetti, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2007, Economia, p. B1

Projeção de 4,3% para 2008 está dentro da meta, mas superaquecimento da demanda ameaça pressionar índices

O Banco Central alertou ontem que o superaquecimento da economia, impulsionada pelo crédito mais barato e comemorado pelos brasileiros neste Natal, está aumentando as incertezas sobre a evolução da inflação e constitui fator ¿tão ou mais importante¿ que as ameaças do cenário externo. As projeções para 2008, anunciadas ontem pelo diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, apontam para uma inflação de 4,3% no próximo ano, um décimo de ponto porcentual acima da previsão divulgada em setembro, mas dentro da meta de 4,5%.

As mudanças nas expectativas do mercado ainda são suaves, mas o Relatório de Inflação divulgado ontem sugere que as pressões inflacionárias decorrentes de fatores internos são maiores e menos localizadas do que se pensava anteriormente.

No setor de alimentos, por exemplo, os dados indicam uma ¿progressiva exaustão¿ dos efeitos da recente elevação dos preços sobre o restante da economia, mas, em contrapartida, estariam surgindo outros potenciais focos de preocupação, como o aumento dos preços dos serviços e outros impulsionados pelo aumento do consumo.

¿A nossa avaliação é de que o balanço dos riscos de inflação se deteriorou¿, afirma Mesquita. ¿O processo inflacionário nunca começa de forma uniforme, e nossa função é evitar que processos localizados se tornem generalizados.¿

A estimativa do BC é que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche este ano em 4,3% e o Produto Interno Bruto (PIB), com expansão real de 5,2%. Para o próximo ano, as projeções do BC indicam crescimento econômico de 4,5%, menor do que o esperado pela equipe do Ministério da Fazenda.

No relatório, entretanto, os economistas do BC voltam a apontar um velho problema que sempre aparece nas discussões sobre as pretensas limitações que o Brasil enfrenta para crescer mais aceleradamente com estabilidade inflacionária: a falta de oferta suficiente de produção para atender à demanda dos consumidores e das próprias empresas por insumos. ¿A robustez da demanda doméstica tem exercido pressão sobre a capacidade de oferta de todos os setores da economia, especialmente os não expostos à concorrência externa¿, diz o texto.

Aparentemente, essa tendência de a oferta crescer mais do que a demanda parece contraditória com outras constatações do documento, como a surpreendente evolução dos investimentos em 2007, estimada em 12,2%, bem acima do consumo das famílias, cuja previsão de crescimento é de 5,9%. O relatório também registra a expectativa de 53% dos empresários de elevar investimentos em 2008, de acordo com sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em tese, esses investimentos contribuem para ampliar a oferta e ¿mitigar pressões inflacionárias¿, como assinalado no texto, mas Mesquita avalia que seu efeito imediato continua sendo sobre a demanda.

Ou seja, é como se, no curto prazo, os investimentos ainda estivessem simplesmente aumentando a demanda por bens de capital e serviços, levando algum tempo para também elevar a capacidade produtiva.

De acordo com o BC, a demanda agregada deve continuar crescendo em 2008, até porque parcela significativa dos efeitos dos cortes na taxa de juros (interrompidos em setembro) ainda não se refletiu sobre a atividade econômica. ¿Ainda há substancial estímulo monetário para atuar sobre a economia brasileira¿, disse Mesquita.

Entre as várias fontes de estímulo à demanda agregada que devem se manter em 2008, o BC destaca os impulsos fiscais, decorrentes de aumento de investimentos ou de redução da receita, como no caso da CPMF.

¿Ainda é cedo para se avaliar possíveis conseqüências da não-prorrogação da CPMF sobre a demanda agregada, pois estas dependem de desdobramentos futuros da política fiscal¿, diz o texto, referindo-se às dúvidas de como o governo vai se ajustar ao novo cenário - reduzindo gastos, reduzindo o superávit, aumentando os tributos ou um mix disso tudo.

O relatório também registra as incertezas sobre o cenário internacional, como o risco de aumento dos preços de petróleo e de algumas matérias-primas e de desaceleração mais acentuada da economia americana.

Em pelo menos um aspecto, entretanto, a retração da economia mundial poderia ajudar a reduzir as pressões de demanda, via redução das exportações. Isso, porém, prejudicaria a balança comercial. ¿Ainda não sabemos a profundidade do mergulho da economia americana, se será suave ou abrupto¿, afirmou Mesquita.

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