Título: 'Brasil deve receber grau de investimento até junho'
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2007, Ecoomia, p. B4

Para secretário do Tesouro, crescimento do PIB e melhora do perfil da dívida dão condições ao País de receber avaliação de agências de risco

Com o maior crescimento econômico e a melhora do perfil da dívida alcançada este ano, o Tesouro Nacional avalia que o Brasil tem todas as condições de receber até o fim do primeiro semestre de 2008 o grau de investimento pelas agências internacionais de classificação de risco. A avaliação foi feita pelo secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Paulo Valle, em entrevista ao Estado.

¿Acreditamos que o Brasil pode receber o grau de investimento no primeiro semestre, porque o governo está fazendo a sua parte¿, disse o secretário. Segundo ele, a maneira como o País vem enfrentando o cenário de turbulências no mercado internacional, durante os últimos meses, reforçou a avaliação positiva.

As agências internacionais reagiram positivamente à decisão do governo de manter o compromisso com a meta de superávit fiscal de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Também contribuíram para a avaliação positiva o quadro de elevadas reservas internacionais (quase US$ 180 bilhões), a redução da dívida externa total e de curto prazo, a diminuição da necessidade de financiamento externo do governo e a melhoria da composição da dívida interna.

O secretário reconheceu que o tamanho da dívida interna é um ponto negativo na avaliação das agências internacionais. Ele, porém, ponderou que sua composição apresentou substancial evolução nos últimos anos, no sentido de deixar o País menos vulnerável a turbulências.

Outro fator negativo apontado pelas agências era o ritmo de crescimento econômico, considerado lento. Agora, com a expectativa de expansão do PIB mais robusta em 2007 e 2008, essa avaliação deverá mudar.

Passado o primeiro trimestre de 2008, disse Valle, quando já tiverem sido anunciadas as medidas para substituir a perda de arrecadação com o fim da CPMF, o caminho para o grau de investimento se consolidará. Com esse ¿selo de qualidade¿ dado pelas agências, a expectativa é que caiam as taxas de remuneração dos títulos vendidos pelo Tesouro, por causa do aumento da demanda dos investidores. ¿Os juros reais no México caíram para 4,5% depois que ele recebeu o grau de investimento.¿

Segundo ele, os investimentos mais especulativos - de curto prazo - tendem a deixar o País. Em troca, ingressam os investidores interessados em aplicações de mais longo prazo. ¿Vamos ter ganho de qualidade também¿, disse Valle.

CRISE EXTERNA

Se o cenário de turbulência no mercado internacional continuar em 2008, o governo poderá reduzir a velocidade de substituição de títulos atrelados à taxa Selic por papéis prefixados e corrigidos por índices de preços. Segundo Valle, a melhora da composição da dívida interna alcançada este ano - com cerca de 60% do total composto por títulos prefixados e de índices de preços - assegurou maior flexibilidade ao Tesouro Nacional para administrar essa estratégia, reforçada desde 2002.

Valle ainda descartou mudanças na isenção do Imposto de Renda (IR) concedida pelo governo brasileiro para os investimentos estrangeiros em títulos públicos. A isenção provocou um aumento da demanda de investidores estrangeiros pelos papéis da dívida interna, principalmente os prefixados e com prazos de vencimento mais longos. O fim da isenção tem sido defendido por economistas que querem uma atuação mais forte do governo para reverter a queda do dólar em relação ao real.

Links Patrocinados