Título: Transposição tem apoio da maioria dos governadores
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2007, Nacional, p. A7
Só os de Sergipe e Alagoas, com participação indireta no projeto, são contra
A transposição do Rio São Francisco tem apoio da maioria dos governadores de Estados nordestinos envolvidos no projeto - Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte. As únicas vozes dissonantes vêm do sergipano Marcelo Déda - do mesmo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT -, e de seu colega alagoano, Teotônio Vilela, do oposicionista PSDB.
Ironicamente, os dois Estados não são considerados nem doadores de água, como Bahia e Pernambuco, de onde vai ser retirada parte da água do rio, nem receptores (Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e um trecho do sertão pernambucano). Entre os técnicos, eles são chamados de doadores indiretos, porque as águas desviadas do rio na Bahia e em Pernambuco chegariam a Sergipe e Alagoas.
¿Tenho uma posição crítica à transposição porque, na minha opinião, o projeto `secundariza¿ os interesses dos Estados da Bacia do São Francisco, trata com timidez a questão da revitalização do rio e não resolve dúvidas relacionadas aos impactos ambientais¿, explica Déda. ¿Do mesmo modo, não me convenço de que o projeto, na forma em que se encontra, seja a solução técnica com o melhor custo-benefício para a falta de água no Nordeste Setentrional.¿
Na sua opinião, não houve um ¿debate consistente¿ para a elaboração de políticas de recursos hídricos para o semi-árido nordestino. O governador acha que isso seria fundamental para que o projeto pudesse ser posto em prática.
¿Não duvido das boas intenções do presidente e da sua equipe, por isso sempre quis que todos os governadores da região fossem envolvidos nos debates, ao lado dos movimentos sociais e de pesquisadores que estudam o assunto¿, argumenta Déda. ¿Por outro lado, a radicalização com a qual a transposição foi tratada, tanto pelos defensores quanto pelos que a combatem, terminou prejudicando um debate mais aberto e franco. Ainda há tempo para o diálogo e - quem sabe? - o consenso.¿
¿MESQUINHARIA¿
Do outro lado da mesa, o mais eloqüente defensor do projeto é o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), irmão do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), um dos mentores do atual projeto de transposição, elaborado enquanto ele era ministro da Integração Nacional. ¿Praticamente não há cearenses contrários ao projeto¿, acredita Cid Gomes. ¿A transposição é de fundamental importância para o Nordeste como um todo.¿
Ele discorda dos grupos que acham que a revitalização deve ser feita antes da transposição. Para Cid, esse debate não passa de ¿mesquinharia¿ dos Estados que vão ser afetados pela retirada das águas. ¿Sabemos que o processo de assoreamento do rio é gravíssimo, mas ele vem acontecendo há séculos¿, diz. ¿A revitalização já está prevista no projeto, mas não há tempo de executá-la antes da transposição porque o que está em jogo é o abastecimento humano, que está próximo do colapso.¿
Déda responde que não é movido por ¿nenhum egoísmo hídrico ou fundamentalismo ambiental¿. E insiste: ¿O que não se pode é mexer num tema tão candente sem buscar um mínimo de consenso. Na luta contra a seca, todos precisamos da vitória E será uma tragédia se, ao final, realizando-se ou não a obra, o Nordeste se dividir em ganhadores e perdedores.¿
Na Paraíba, o governador Cássio Cunha Lima (PSDB), buscou mobilizar a sociedade para apoiar a transposição. Em julho ele lançou o Comitê Paraibano em Defesa da Transposição do Rio São Francisco, que é presidido pelo arcebispo do Estado, d. Aldo Pagotto, e reúne representantes de vários setores sob o lema ¿Quem tem sede apóia¿. ¿É preciso deixar de lado as questões partidárias para que a obra seja feita, levando água de beber para os nordestinos¿, afirma Cunha Lima.
Para o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), é natural que não haja consenso. ¿É claro que uma obra dessa magnitude causa controvérsias. Respeito quem é contra, quem fala que é preciso mais debate, mas é preciso entender que chega uma hora em que o Executivo tem de tomar uma decisão. E foi decidido que esta é uma obra que vai ajudar o povo nordestino a ter acesso à água, a ter mais dignidade, por isso a apóio.¿
Segundo ele, obras de transposição são mais comuns do que se pensa. ¿Muitas metrópoles são abastecidas por águas de rios transpostos. Cerca de 60% da água consumida em Salvador, por exemplo, vem do Rio Paraguaçu, que nasce na Chapada Diamantina e deságua na Baía de Todos os Santos.¿
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