Título: Em carta à mãe, Ingrid mostra dor e desespero
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2007, Internacional, p. A11
Prova de vida da ex-candidata presidencial sensibiliza Colômbia e reflete angústia dos reféns das Farc
Juan Forero, THE WASHINGTON POST, BOGOTÁ
Foi uma dádiva divina. Uma carta de 12 páginas que a ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt enviou à mãe, Yolanda Pulecio, confirmando que a refém mais conhecida da Colômbia - uma entre centenas - está viva. Entretanto, a carta transmite dor e desespero tão profundos que Yolanda ainda não parou de chorar.
Em uma prosa extremamente precisa, Ingrid diz à mãe que está ¿cansada de sofrer¿ e, às vezes pensa, que a morte seria uma ¿doce opção¿.
¿Esses quase seis anos de cativeiro me mostraram que não sou tão resistente, nem tão corajosa, nem tão inteligente, nem tão forte como pensava¿, escreveu Ingrid. ¿Já lutei muitas batalhas. Tentei fugir em várias oportunidades. Tenho tentado manter a esperança, como alguém que mantém a cabeça fora d¿água para não afundar, mas, mamita, fui derrotada.¿
Recentemente, várias histórias dramáticas envolvendo reféns impressionaram a Colômbia, entre elas a do policial que caminhou 17 dias pela selva para fugir dos guerrilheiros, e de uma refém que deu luz a um menino. No entanto, a repercussão da carta de Ingrid foi maior porque lançou um holofote sobre a angústia dos prisioneiros.
O Exército colombiano confiscou a carta em 29 de novembro de três guerrilheiros que levavam consigo provas de vida dos reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Embora o número de seqüestros tenha diminuído no governo do presidente Álvaro Uribe, os colombianos ainda temem ser seqüestrados. Um exemplo é o escritor Gabriel García Márquez, que deixou o país há muito tempo preocupado com sua segurança. Uribe diz que as Farc continuam a manter mais de 750 reféns - que são usados como barganha para conseguir a libertação de guerrilheiros presos.
As Farc, que vêm combatendo o Estado há 43 anos, são capazes de esconder os seqüestrados tirando vantagem de uma vasta zona rural pouco habitada, grande parte dela uma selva impenetrável. Os reféns do grupo incluem políticos, militares e policiais. E depois, há Ingrid, que completou 46 anos no dia de Natal. Colombiana com cidadania francesa, foi senadora e concorreu à presidência em 2002. Os colombianos lembram dela como uma jovem efervescente lutando contra o crime e o tráfico de drogas. Ingrid transformou-se numa estrela na França. Seu livro, Coração Enfurecido, foi um best seller no país e a mídia francesa a apelidou de ¿Madame Colômbia¿ e ¿Guerreira dos Andes¿.
Yolanda, ex-senadora conhecida por seu trabalho com crianças de rua, diz que a carta da filha reflete tanto paixão quanto intelecto. ¿A carta, do ponto de vista literário, é divinamente bem escrita¿, disse. ¿Não há nada impreciso. O que ela escreveu tem nexo. Isso mostra que sua cabeça está totalmente lúcida, a despeito da solidão, da dor, de tudo que tem passado.¿
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