Título: Vitória retumbante de Huckabee não define nada
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2008, Internacional, p. A10

Disputa entre republicanos continua aberta e só deve ser definida na Superterça, em fevereiro

Doyle McManus

A vitória retumbante do ex-governador do Arkansas Mike Huckabee no caucus de Iowa apenas mostra que a corrida para a indicação do candidato republicano à presidência continua sem dono. A briga está entre quatro candidatos e talvez seja resolvida somente na Superterça, no dia 5 de fevereiro, quando 22 Estados americanos escolherão cerca de 40% dos delegados do país.

¿Isso mantém a disputa totalmente aberta¿, disse o pesquisador Whit Ayres, consultor do Partido Republicano. ¿Sem dúvida nenhuma, esta é a disputa mais apertada para a indicação de um candidato republicano de que se tem lembrança.¿

Huckabee, um pastor da Igreja Batista que virou político, era quase um desconhecido fora de seu Estado natal, o Arkansas. Na noite de quinta-feira, ele conseguiu atrair os votos de milhares de evangélicos e marcou uma vitória decisiva sobre o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney.

NEW HAMPSHIRE

Agora a corrida para a indicação republicana prossegue no Estado de New Hampshire, onde os conservadores religiosos constituem uma parcela muito menor do eleitorado e onde as pesquisas de opinião indicam que Huckabee não tem nenhuma chance de vencer.

Em New Hampshire, as primárias serão disputadas, principalmente, entre Romney e John McCain, senador pelo Arizona. Em seguida, a campanha segue para Michigan e Carolina do Sul, onde Huckabee, Romney e McCain aparecem com força. Depois, ela vai para a Flórida, onde o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani está gastando milhões de dólares em uma arriscada estratégia para obter, a partir daí, o controle da corrida.

¿Essa foi não só uma grande vitória para Huckabee, mas também para McCain¿, disse Scott Reed, estrategista republicano que não trabalha na campanha presidencial deste ano. ¿É um triunfo para McCain porque a disputa está dividida e chega agora aos Estados que o favorecem: New Hampshire e Michigan.¿

McCain, que gastou pouco dinheiro e pouco tempo fazendo campanha em Iowa, terminou em quarto lugar, praticamente empatado com o ex-senador Fred Thompson, do Tennessee, que ficou em terceiro.

¿Esta disputa vai se estender até 5 de fevereiro¿, disse Reed, citando a data da Superterça. ¿A campanha está muito fragmentada para terminar antes disso. Além disso, há muitos delegados a ser escolhidos no dia 5 de fevereiro.¿

DEFINIÇÃO

A perspectiva de uma batalha renhida pela indicação é inquietante para alguns republicanos. Nos últimos anos, o partido sempre entrou no ano da eleição com um candidato forte e com claras chances de vencer. ¿Este ano não há ninguém com esse perfil¿, observou Whit Ayres. A disputa atual vai muito além da tradição. Em oito das últimas dez eleições, ganhou o partido que escolheu primeiro seu candidato. Quem primeiro define a disputa tem mais tempo para curar as divisões internas da campanha, o que facilita uma vitória final.

Os resultados de Iowa apresentam dois outros fatores que poderão influenciar o restante da campanha. Um deles foi o empate, em terceiro lugar, entre Thompson e McCain. Caso Thompson terminasse em quarto lugar, alguns estrategistas republicanos o pressionariam para que desistisse da disputa e apoiasse McCain. Contudo, o respeitável terceiro lugar pode tê-lo motivado e incentivado a permanecer na luta.

Um segundo fator, incomum na corrida republicana, foi o resultado dos democratas. A vitória incontestável do senador Barack Obama deu um empurrão na campanha dele em New Hampshire, onde ele também tenta atrair os eleitores independentes.

FATOR OBAMA

O avanço de Obama representa um problema também para McCain, já que os dois candidatos estão competindo pelos mesmos eleitores, os independentes. Em New Hampshire, os eleitores podem votar tanto na primária dos republicanos como na dos democratas, mas somente em uma delas.

Grande parte da vitória de McCain em New Hampshire em 2000 foi resultado do apoio que ele obteve dos eleitores independentes, os mesmos que ameaçam, este ano, debandar para o lado de Obama.

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