Título: Temor de recessão nos EUA derruba bolsas
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2008, Economia, p. B4

Taxa de desemprego em dezembro atinge o maior nível em mais de dois anos; Ibovespa recua quase 3% e acumula perdas de 4,46% na semana

O relatório sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos em dezembro reforçou os temores de uma recessão no país e derrubou as bolsas de valores globais ontem. A taxa de desemprego saltou de 4,7% para 5%, o maior nível desde novembro de 2005, e 18 mil empregos foram criados no mês, bem abaixo das expectativas dos analistas, de 50 mil.

¿Há um enorme desconforto no mercado acionário diante daquilo que parece ser o crescimento das evidências de uma recessão (nos EUA)¿, afirmou Rick Meckler, presidente da Libertyview Capital Management, em Nova Jersey.

O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, caiu 1,96% e a bolsa eletrônica Nasdaq despencou 3,77%. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) deslizou 2,95%. Na primeira semana de 2008, o principal termômetro do mercado de ações brasileiro acumulou perdas de 4,46%. Em Londres, o Índice FTSE-100 desvalorizou 2,02% e, em Paris, o CAC-40 teve baixa de 1,79%.

Segundo analistas, o bom desempenho do mercado de trabalho americano nos últimos meses vinha sustentando o consumo, que, por sua vez, responde por cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA. Se o emprego dá sinais de fraqueza, a economia tende a desacelerar. A grande dúvida é saber a intensidade desse desaquecimento. Se for muito forte, leva a maior economia do planeta para uma recessão, afetando os outros países, inclusive o Brasil.

Por ora, não há clareza, entre os especialistas, sobre esses efeitos. Daí a forte volatilidade dos mercados desde meados do ano passado, quando começaram a surgir os primeiros sinais de desaceleração da economia americana. ¿Acredito que o mundo consegue lidar com isso (o desaquecimento dos EUA), mas, se a situação piorar muito, ficará mais difícil¿, disse Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora.

Para ele, há ¿boas¿ chances de uma recessão nos EUA, cujo impacto deve ser amenizado no resto do planeta por algumas razões, uma delas em especial. ¿O maior problema nos EUA, hoje, é o mercado imobiliário. O ajuste dos preços das casas, ao contrário do que ocorre em outras crises, deve ser lento, o que deve dar tempo para que os países adotem medidas preventivas.¿

Nesse ambiente de incertezas, as atenções dos investidores estão inteiramente voltadas para as ações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Os dados do mercado de trabalho levaram muitos analistas a aumentar de 0,25 para 0,50 ponto porcentual a projeção de corte da taxa básica de juros dos EUA na próxima reunião do Fed, que ocorre nos dias 29 e 30 de janeiro. Atualmente, a taxa está em 4,25% ao ano.

O diretor-executivo de Asset Management do banco WestLB, Aristides Jannini, avisa que, mesmo no caso de uma redução de 0,50 ponto, a volatilidade persistirá. ¿Se o Fed corta 0,25, será pouco para animar a economia. Se reduz 0,50, o mercado avaliará que está correndo atrás dos fatos¿, disse.

Por essas e outras, os especialistas recomendam aos investidores paciência em 2008. ¿A volatilidade será a tônica do ano¿, disse Jannini.

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