Título: Alta dos alimentos vai manter pressão sobre inflação em 2008
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2001, Economia, p. b5

Comida foi a maior vilã do IPC-Fipe no ano passado, com o maior aumento desde 2002

2007 foi o ano da inflação dos alimentos e a comida deve continuar pressionando o custo de vida em 2008. O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) fechou 2007 com alta de 4,38%, bem superior à expectativa inicial, que era de 3,6%, e quase dois pontos porcentuais acima da inflação acumulada em 2006, que havia sido de 2,55%.

Os preços dos alimentos subiram no ano passado 12,73%, depois de ficarem praticamente estáveis em 2006 (0,06%). Foi a maior variação registrada nos preços da comida desde 2002. Só os alimentos contribuíram para mais da metade (63,5%) da inflação de 2007. Dos cerca de 500 preços pesquisados para apurar o indicador, o feijão foi o líder absoluto de alta no ano: subiu 149,5% e respondeu por 10,02% do IPC-Fipe. Entre os 30 itens que registraram as maiores altas de preços no ano passado, apenas três não são alimentos.

¿Se os preços dos alimentos tivessem ficado estáveis, o IPC-Fipe de 2007 teria sido de 1,62%¿, calcula o coordenador do indicador, Márcio Nakane. Para 2008, ele diz que os alimentos vão continuar pressionando a inflação, não com a mesma intensidade de 2007. ¿Mas o comportamento dos preços da comida neste ano não será tão favorável como foi em 2006.¿

Nakane observa que o cenário internacional para os alimentos continua apertado, com elevações significativas dos preços dos grãos, pressionados pela demanda crescente por agroenergia. Na quinta-feira, por exemplo, a cotação da soja, matéria-prima usada para engorda de frangos, suínos e bovinos, bateu recorde histórico na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos.

O economista diz que já existem indicações de que começa a ocorrer um certo alívio nos preços dos alimentos. ¿Temos vários indicadores que mostram que o pior já passou.¿ Um desses indicadores é o preço do feijão. No índice ponta a ponta, que é um indicador de tendência, o preço do grão, que havia subido 50,4% na terceira quadrissemana de dezembro, aumentou 38,4% na última quadrissemana do mês. A carne bovina, por sua vez, que havia aumentado 5,70% no índice ponta a ponta na terceira quadrissemana de dezembro, subiu 2,77% na última quadrissemana do mês. ¿A perspectiva é de que a elevação dos alimentos seja mais razoável em janeiro; essa é a boa notícia.¿

De toda forma, a comida ainda foi a vilã do IPC-Fipe no mês passado. Para uma variação de 0,82% da inflação geral de dezembro, o grupo alimentação foi o que mais subiu: 2,02%, respondendo por 55,63% do IPC.

Além da alimentação, o outro foco de pressão do IPC no mês passado foram as despesas pessoais, que são basicamente serviços. Esse grupo subiu 1,18% em dezembro. Nakane destaca que a maior contribuição para a alta veio dos preços das viagens, que subiram 6,69%. Ele considera o aumento sazonal. Em 2007, as despesas pessoais subiram 4,14% e, junto com alimentação, foram os dois grupos de preços, dos sete pesquisados pela Fipe, que não desaceleraram no ano passado na comparação com 2006.

Na análise de Nakane, a elevação das despesas pessoais não indica uma inflação de demanda. Os serviços no ano passado subiram 5,28%, depois dos produtos comercializáveis, influenciados pelos alimentos, que tiveram alta de 6,61%. O economista admite que houve uma mudança de nível de preços dos serviços em 2007, mas não acredita que esse movimento seja um foco de preocupação.

Para 2008, o palpite de Nakane é que o IPC-Fipe seja de 4% e o IPCA fique próximo de 4,5%. Nessas projeções preliminares ele considera uma leve desvalorização do câmbio e as tarifas mais pressionadas em razão da alta dos IGPs.

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