Título: Cresce número de assassinatos entre índios
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2008, Nacional, p. A13

Levantamento preliminar do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) sobre casos de violência contra índios em 2007 indica que ocorreram 70 assassinatos no País. É um dos números mais altos registrados pela organização, desde que começou a produzir relatórios sobre casos de violência, há quase 30 anos. O que mais chamou a atenção do Cimi, porém, foi a constatação de que, do total de assassinatos, 48 ocorreram em Mato Grosso do Sul.

O Cimi ainda está finalizando o levantamento, que apontará como ocorreram os assassinatos. Já se sabe, porém, que a maior parte deles decorre de conflitos entre os próprios índios.

Para o coordenador do Cimi em Mato Grosso do Sul, Egon Heck, uma das principais causas da violência é a falta de terras para os 38 mil guaranis que vivem no Estado. ¿Eles estão confinados em pequenas áreas, num permanente clima de tensão entre eles e também com os não-índios, com quem disputam terras¿, afirma Heck.

Também aumentou o número de suicídios entre os índios. De acordo com outro levantamento, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em 2007 ocorreram 14 casos de suicídio em Mato Grosso do Sul.

¿Os suicídios acontecem principalmente entre jovens, o que mostra a falta de perspectivas dessa população indígena¿, diz Heck.

Os problemas entre os guaranis de Mato Grosso do Sul estão se agravando há anos. Em decorrência do aumento populacional, as terras que haviam sido reservadas a eles em décadas passadas tornaram-se insuficientes. Os guaranis tentam ampliar suas reservas, mas enfrentam resistência dos produtores rurais, num contexto de forte valorização das terras - dedicadas sobretudo à pecuária e ao plantio de soja.

Diante dos conflitos, o atual presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, já disse em mais de uma ocasião que o atendimento às reivindicações dos guaranis é uma das prioridades de sua gestão. Seu antecessor, Mércio Gomes, também havia dito que se tratava de uma questão de urgência atendê-los.

¿Entre o discurso e a prática há uma longa distância¿, diz Heck, observando que a Funai tem feito pouco pelos guaranis. A instituição governamental não quis comentar os números do Cimi. Segundo sua assessoria, já estão em andamento várias ações para reforçar e aperfeiçoar a área administrativa na região, assim como programas de atendimento à população indígena jovem. Também opera naquela área um comitê gestor de políticas indigenistas, que reúne várias entidades.

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